segunda-feira, 11 de abril de 2011

Inventam-nas todas XIV

Porque é que fazer Geocaching é uma tragédia pegada?

Dois gajos combinam fazer uma sessão deste popular desporto. Para quem não sabe, implica procurar 'tesouros' com um GPS - vejam na internet.
Vão então o Ricardo (nome fictício) e eu (escrevo 'eu' apenas para facilitar a escrita, isto não se passou comigo) direitinhos para Belas.
Objectivo, encontrar umas caixas ao pé do Aqueduto das Águas Livres.

A primeira caixa tem umas coordenadas que nos levam a um sítio espectacular, mas onde não há tesouro nenhum.
Procurei e vasculhei (ou melhor, quem vasculhou foi um conhecido meu, que me contou esta história), mas caixa nem vê-la.
Não é grave, mas pode-se dizer que não começou lá muito bem.

A segunda caixa ficava ao pé de uma Mãe d'água. Na descida para lá, o Ricardo (nome fictício) torceu o pé. Eu perguntei se ele podia continuar (quer dizer, eu teria perguntado se estivesse lá), e ele disse que sim, por isso continuámos.
Junto à Mãe d'água descobrimos que a caixa estava no meio de uma densa mata de espinhos.
Ele estava lesionado e disse logo que não podia lá ir, por isso eu fui o escolhido (pelo menos imagino que teria sido, mas não tenho nada a ver com isto).

Então fui eu (ou seja, foi a pessoa a quem estou a chamar 'eu') a sofrer através uma mata de cactos. De calçõezinhos. E tudo por causa de um tupperware com brindes.
Encontrei a caixa e saí do outro lado, com as pernas literalmente a sangrar em vários pontos, e a retirar as carraças que já tinha agarradas à pele (segundo contou o amigo do meu amigo).

Claro que eu (enfim, ‘eu’ é como quem diz) também não sou assim tão doido que vá voltar para trás e atravessar aquela selva novamente, por isso gritei a dizer que ia tentar dar a volta e encontrar outro caminho.
Depois de andar durante alguns minutos encontrei (lá está, o gajo diz que encontrou e eu acredito) um caminho que dava a volta.
Foi preciso saltar o muro de uma Quinta, mas na boa. Se aparecesse alguém eu inventava uma desculpa (o vândalo que fez isto inventava, disse-me ele).

Lá cheguei finalmente ao pé do Ricardo (nome fictício), que por esta altura já estava sentado nos degraus da Mãe d’água. O pé tinha inchado, ele não conseguia andar.
Decidimos logo ali que tínhamos de ir embora, apesar de apenas ‘meia caixa’ encontrada.

Faltava só uma coisa antes de irmos para o carro. Essa tal Mãe d’água tinha uma porta de madeira, sem fechadura e apenas presa com arames.
Aquilo era uma casinha de pedra de 2 metros por 3, mas de lá de dentro vinha um irresistível barulho de cascata.
Tínhamos (tinham, tinham, não ‘nós’, 'eles’) de saber o que estava lá dentro.

O Ricardo (nome completamente inventado) tinha estado a tentar abri-la com uma pedra às pancadas no arame, mas sem um alicate era impossível de abrir.

Então ele sugeriu que eu (já falámos sobre isto, não era eu) desse um pontapé na porta, que aquilo talvez abrisse.
Eu jamais seria incapaz de fazer isso, mas o criminoso que lá estava esticou mesmo a perna. PUM! CRÁS!
No meio da nuvem de poeira, alguém disse "Isso foi uma cena à filme".

Lá dentro havia umas escadas que desciam até um negrume onde se ouvia água a correr.
Lá em baixo, depois de os olhos se habituarem à falta de luz, vimos um rio subterrâneo – o caudal do Aqueduto, ou pelo menos um dos seus afluentes.

Depois viemos embora, o Ricardo (etc etc) apoiado nos meus ombros e a andar ao pé-coxinho, todos contentes depois de termos destruído propriedade pública.

Se isto não é uma tragédia pegada, não sei o que será.
Ainda bem que eu não estava lá.