quarta-feira, 30 de setembro de 2009

É a mil IV

Isto não dá para tudo, e o publicitário teve de suspender a sua actividade como actor de teatro.
Mas pronto, não há problema, o Diogo Infante substitui.

Só que agora o publicitário, parecendo que não, acabou por ter mais algumas horas de tempo para gastar.
Uma amiga sugeriu-lhe "e que tal sexo?", enquanto piscava muito os olhos sabe-se lá porquê, mas o publicitário não gostou da ideia porque não lhe apetecia estar sozinho, e além disso a masturbação perde a piada depressa.

Foi aí que o publicitário chegou à conclusão de que tinha de começar a treinar para a única coisa que lhe faltava fazer:
Ser toureiro.

Só podia. Tanta conversa sobre tourada tinha de ir dar a algum lado, e além do mais já diz o ditado, "se não podes vencê-los junta-te a eles".
É por isso que o publicitário já iniciou as aulas teóricas para dizer "olé" em dez línguas, e se tudo correr bem para a semana já começa a levar cornadas na boca.

Mas o publicitário é original, e vai inovar.
Estão por isso na presença do primeiro e único... toureiro-domador do mundo!

Nem mais, espeta-se-lhe umas coisas afiadas no lombo, e ainda o touro nem sabe bem o que lhe aconteceu já está a fazer equilibrismo com uma bola no focinho!
Isto entre outras proezas que estão a ser desenvolvidas e que o touro vai ser treinado para realizar, tais como:
- O fabuloso mergulho para cima de 7 forcados enquanto toma balanço ao pé coxinho!
- O magnífico salto através de um arco em chamas, todo nu!
- O espectacular número de contorcionismo em cima de um cavalo!

A cartola e o chicote do publicitário já foram encomendados, falta só deixar crescer a bigodaça.
Esperem para ver, a arena nunca mais será a mesma!!

Mas não se apoquentem os mais classicistas, as tradições são para manter e há coisas que são milenares:
Vai continuar a ser proibido dizer a sílaba "le" na palavra "telefone".
Vai-se continuar a serrar os cornos aos touros e ainda por cima a forrá-los com cabedal. Assim é muito mais à homem, e além do mais uma pessoa ainda se aleija naquilo.
Vai continuar a ser tudo, mas tudo, culpa do touro. Se der uma cornada no cavalo é porque não colabora, se pisar um forcado é porque não se sabe comportar, se baixar a cabeça é porque baixou, se levantar é porque levantou, se correr muito não é de raça, se correr pouco não é aguerrido, e por aí fora. Há coisas que nunca mudam e esses bichos às vezes nota-se que é mesmo por maldade, fazem tudo só para nos estragar a festa.

O publicitário promete ainda batalhar com todas as suas forças por uma causa nobre:
Acabar com um conservadorismo que já não se usa. O facto de as pessoas não poderem participar independentemente da sua orientação sexual vai ter de acabar.
O publicitário vai dar tudo, mas tudo, para que também possam entrar na tourada os que não são homossexuais.

Só porque alguns homens não têm um caminhar como se lhes tivessem entrado demasiados cornos pelo orifício dentro, será justo que não possam ser toureiros?
Só porque há homens que não apreciam usar três mil pregas cor-de-rosa glamorosamente abichanadas, ou são alérgicos às purpurinas, será aceitável que sejam excluídos sem piedade?
Só porque nem todos os homens conseguem arrumar os testículos para o lado nos calções emprestados pelo palhaço-anão do circo Chen, estará certo não sejam admitidos na festa brava?

E os cavalos? Mas será que também eles têm de ser todos gays e travestis?
O publicitário é todo a favor de abertura de espírito e liberdade, mas qualquer tipo de descriminação é negativa.
E com todas aquelas trancinhas e fitinhas e florzinhas e lacinhos, não há ali um único cavalo com cheiro a cavalo.

Agora, com um programa destes, é pensar seriamente na ideia de organizar um partido para as autárquicas!




P.S.: Das outras vezes em que o publicitário disse que não ia falar mais de tourada não valia. Rebenta a bolha! Não estava a contar!

P.S.S.: E sim, é mesmo verdade, o publicitário andou a ocupar espaço na internet para vender a avançada ideia de um toureiro domador e o seu cavalo heterossexual.
Isto, a falar de touradas, pode-se ser tão idiota e infantil quanto se quiser.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Inventam-nas todas VII

Esta história é baseada em pessoas reais e inspirada em factos verdadeiros, mas não tentem isto em casa.

Houve um tempo em que o criativo trabalhava num clube de vídeo.
Chegava da faculdade e voltava a sair para apanhar o autocarro até à minúscula loja onde ganhava o ordenado mínimo, mas era a melhor parte do seu dia.

Basicamente, pagavam-lhe para estar ali sentado horas a ver filmes.
E de vez em quando alugar uma cassete ou vender umas gomas a um cliente que lá aparecesse, mas era mais ver filmes.
O criativo, se fosse honesto, tinha-o feito de graça...

Pois uma bela noite, ao sair do clube de vídeo para voltar para casa, o criativo decidiu que não ia para o autocarro. Nessa noite, sabe-se lá porquê, decidiu que ia a pé.
É algo que não faz sentido nenhum porque isso significava andar vários quilómetros, perder horas da sua vida e chegar tardíssimo e cansado.
Ainda hoje ele não sabe explicar porque é que que dessa vez, e só dessa vez, lhe deu para isso.

Mas enfim, lá vai o criativo, todo contente às tantas da noite, à beira da estrada sem passeio, a caminho de casa.

Sucede ainda, para elucidar o leitor menos atento, que no caminho para Porto Salvo vindo do norte se tem de passar por um dos montes mais alto do concelho. No topo vê-se parte do que pertence a Cascais, um bocado de Sintra, zonas de Lisboa, da margem sul, e basicamente toda a Oeiras lá em baixo num vale.

Lá vai então o criativo, todo contente às tantas da noite, à beira da estrada sem passeio, a atravessar o alto desse monte.
E o que aconteceu?

Apagou-se tudo.
Tudo.
Apagou-se tudo.

Já alguém ouviu falar no famoso apagão que deixou literalmente metade de Portugal às escuras?
Pois o criativo estava num 'miradouro' no exacto segundo em que sucedeu.
Desculpem a dramatização, mas é uma das imagens mais incríveis que o criativo já viveu.
Foi Cascais, Sintra, Lisboa, margem sul, e toda a Oeiras a desaparecer diante dos seus olhos.
Absolutamente inesquecível.

A primeira reacção do criativo foi parar e pensar: "isto não foi bom".
E de facto não tinha sido. Ele depois correu ruas e ruas onde tudo estava apagado, até semáforos.
Mas isso não é preciso mencionar, toda a gente se lembra da fatídica noite de um dos maiores apagões da história, sendo que oficialmente a culpa foi toda da Ciconiforme.

Se as coisas que sucedem ao criativo viessem num filme, muita diria "que exagero, isto nunca acontece"!

O que é certo é que a data de 9 de Maio de 2000 é uma que ele sabe de cór.
Está bem, pronto, ninguém faz ideia do ano exacto, quanto mais o dia, mas para isso serve a internet.
O apagão até tem direito a página própria no 'wikipédia', e a referências um pouco por todo o mundo.

E para já o criativo rejeita a ideia da cegonha. A explicação popular, de que "um OVNI teria sugado energia de algum poste de alta tensão", é claramente muito mais apelativa e coerente. Enfim, é mais fixe.
Ser um OVNI tem um factor de fixeza de para aí uns 120. (A escala nem interessa, 120 é sempre alto)
Além de que o criativo, tendo várias explicações para um fenómeno, vai sempre por aquela que inclui o verbo 'sugar'.

Seja como for, uma explicação é devida aos portugueses. Ou é agora que vem a piada que se exige: Faça-se luz sobre este assunto!

Ahahah esta foi linda! o criativo devia pensar em ganhar a vida como criativo!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ir pela sombra V

Os blogues têm coisas estranhas.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Vai já daqui VI

Hoje o petulante sente-se petulante.
Mas é só hoje.

Para já ele vai-se borrifar - outra vez! - em quem lhe pede que escreva menos e só sai daqui quando os dedos deixarem de obedecer por causa das cãibras.
E continuando nesse espírito, ele gostava de mencionar a fantástica experiência por que passou recentemente.
Foi numa residencial manhosa em terras espinhenses, onde de noite se matavam centopéias com as páginas amarelas, e de manhã se era acordado com os gritos da mulher por baixo da janela a vender peixe ao sol.

Nessa estância de luxo o petulante teve o que é para si um privilégio raro, uma televisão com mais de quatro canais.
E descobriu aí que a televisão é toda um lixo. Não é novidade, está bem, mas afirmá-lo é petulante.

E no meio do lixo viu um programa de comédia, com um 'camone' qualquer a mandar piadas para um microfone.
O programa já custava a aguentar porque o tipo era um bocado parvo e só de vez em quando é que tinha piada - é mais ou menos como este blogue -, mas ao fim de algum tempo tornou-se impossível.
Porquê? Porque 40% da duração do coiso se passou em aplausos.
A cada graçola o público fazia questão de dar uma estrondosa salva de palmas. Num programa com três mil e quinhentas piadas, é obra...
Tem-se então um programa de uma hora que durou duas, e muita mão dorida naquela gente na hora de ir para casa.

E esta, foi petulante? Esperem que vai piorar...

Na maior parte das vezes era aplauso automático, via-se na cara dos espectadores.
Só que, pronto, coitado do senhor, se ele disse uma gracinha é preciso retribuir ou ele pode pensar que não se gostou.
Claro que havia aplausos sinceros, como os daquele senhor que aparece sempre nestas cenas a tentar uma salva de palmas sozinho quando está tudo quieto. Sim, esse pobre estava lá!

E o pior é que isto nem sequer é exclusivo dos camones... - e os mais sensíveis que mudem de página, porque agora é que o petulante vai ser mesmo petulante e julgar os outros - A quantas peças já o petulante assistiu em que o público achou que tinha acabado, e na dúvida, contra toda a lógica e bom senso, começa a aplaudir?
O petulante já viu mais do que uma vez encenadores a mandar calar o público, mas a 'melhor' deve ser quando uma apresentadora, sentido uma ovação interminável, entrou na sala a agradecer a presença das pessoas.
E os actores no palco, à espera para poderem concluir a peça!!

E em quantos concertos 'clássicos' não esteve o petulante onde, percebendo o público que uma canção vai terminar, começa logo num enorme aplauso que nem deixa ouvir o final?
Respondem, e qual será o problema com isso?? Agora já não se pode aplaudir, é??
Pois bem, pensem naquelas rádios que têm a mania idiota de cortar o fim das canções. É um efeito parecido.
Podia-se aplaudir no fim de tudo, até durante horas, mostrando assim aos artistas como se apreciou, mas para quê, vai-se espalhando as palmas, assim no fim já estão quase todas despachadas e pode-se começar mais cedo a atropelar pessoas na saída para ser o primeiro a chegar ao carro.

Agora respondem, ainda bem que há pessoas a ir a espectáculos e a gostar deles e a bater palmas. E que se ninguém batesse palmas não havia grande coisa para contar no que à arte diz respeito...
Para já, essas frases têm zero em petulância, nem uma petulânciazinha, portanto nem interessa se são verdade.
E depois, as pessoas que dizem isso são provavelmente as mesmas - Ai, em nome de Santa Eufémia, que o petulante vai agora ultrapassar limites nunca vistos de petulância, afastem as crianças e por favor não tentem isto em casa! - que deixam tocar os telemóveis no meio de um espectáculo. Às vezes depois de terem sido avisadas em três ocasiões distintas!
O petulante exige, cheguem ao pé dessa gente e removam-lhes o cu.

Portanto, filhos, resumindo... em nome da decência... por caridade... sigam este guia singelo e não dêem barraca num espectáculo.
Sejam civilizados. E já agora, aproveitem esse recém-adquirido civismo para ir a mais espectáculos, que há muita coisa boa feita por aí.

Enfim, o petulante sabe bem que há problemas muito, mas muito mais graves no mundo para se preocupar, todos os males fossem estes...
Mas mandar vir com estes problemas menores tem muito maior valor de petulância.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Inventam-nas todas VI

O aniversariante talvez aconteça que seja capaz de por vezes, eventualmente, divagar um pouco...
Por isso desta vez o aniversariante vai tentar concentrar-se no tema, adivinhem só, dos aniversários.

É que alguns desses dias são propensos a acontecimentos interessantes.
Como por exemplo aquela vez há muitas décadas, na terna idade que lixa completamente um gajo e a que chamam infância.
Os aniversários eram um pretexto para juntar o pessoal todo e ir para a rua. E como, a seguir a uma bola de futebol rasgada, o entulho das obras era o brinquedo mais sofisticado que se conseguia arranjar, vai então o maralhal todo inspeccionar as casas em construção.
Quais engenheiros civis! A malta é que mandava naquela cena toda!
Fazia-se de tudo, só faltava remodelar quartos e acrescentar divisões.
Mas nesse dia é capaz de não ter corrido muito bem... No meio da conversa, em pleno primeiro andar da vivenda, o aniversariante aproximou-se demasiado da beira, deu um passo descuidado para trás e caiu desamparado.

Ora, vejamos como vai a história até aqui... malta... obras... passo para trás... cair do primeiro andar de uma vivenda e aterrar de costas no chão, sim, confere.
Bom, se o aniversariante está a escrever isto é porque não foi desta para melhor, embora ele não saiba bem como é que isso não aconteceu.
Quando deu por si estava no meio da terra, e lá em cima, lá muito em cima, os outros a olhar para ele.
Houve uns segundos, ou minutos, de silêncio total, enquanto a surpresa era absorvida. Depois o aniversariante começou a chorar. Mas foi de choque, porque fisicamente não tinha nada.
Levantou-se e foi para casa, sacudindo a terra da roupa para que a mãe não topasse nada.
Mentira, houve uma mazela física, estava a sangrar da unha de um dedo mindinho!




Um outro aniversário muito peculiar foi bem mais recente.
O aniversariante morava num quarto alugado na casa de outro tipo. Os dois mal se viam, mas em parte era por isso que a coisa funcionava muito bem. Como eles nunca paravam em casa ao mesmo tempo, cada um acabava por ter o apartamento só para si.
Mas no dia do seu aniversário, o aniversariante chegou a casa vindo de uma festinha com a família, e o 'senhorio' estava na conversa com uns amigos. O aniversariante pousou todos os sacos de prendas e mandou uma boca do género 'vieram para me dar os parabéns?'. Esperava um olhar de surpresa, seguido de uns sorrisos, qualquer coisa do género 'fazes anos hoje?'. Em vez disso o senhorio fitou o aniversariante com cara de caso, enquanto os amigos começaram a olhar uns para os outros. O aniversariante estranhou, mas ainda sorrindo, insistiu com um 'a sério, faço anos hoje!'. Como resposta, o senhorio fez uma cara como se o aniversariante estivesse a abusar, enquanto os outros alternaram entre o sorriso amarelo e a risadinha, ah, ah, tens mesmo piada.
Que cambada de imbecis, pensou o aniversariante, e foi para o seu quarto.
No dia seguinte, ainda antes de o aniversariante poder confrontar o senhorio sobre educação e maneiras, o senhorio perguntou-lhe 'olha lá, mas tu fizeste mesmo anos ontem?'. Que raio de pergunta, pensou o aniversariante, e disse 'mas quem é que inventa que faz anos??'.
A resposta do senhorio foi tudo menos o que o aniversariante esperava ouvir, 'é que aqueles são os meus amigos do trabalho. Vieram fazer-me uma surpresa pelo meu aniversário!'

Portanto, o aniversariante, que nunca tinha conhecido uma pessoa que tivesse nascido no mesmo dia que o seu, conseguiu que a primeira fosse o gajo com quem morava.
Ah, e apesar de viverem na mesma casa há meses nunca falaram no assunto, e ainda conseguiram deixar que o dia chegasse sem que se apercebessem do que se ia passar.
Depois claro, dá-se aquele momento inaudito.
Do ponto de vista do aniversariante, aquela gente que nem se dignou a dar os parabéns era parva todos os dias, a começar no cretino do senhorio e a acabar nos idiotas dos amigos deles.
Do ponto de vista do senhorio, era muito esquisito que o aniversariante tivesse descoberto, sabe-se lá como, que ele, senhorio, fazia anos.
Do ponto de vista dos outros, o tipo que vivia com o amigo deles era um palhaço foleiro, com a mania que tinha graça.

E do ponto de vista do senso comum, o aniversariante teima em achar que estas coisas só acontecem a ele...