quinta-feira, 28 de maio de 2009

Vai já daqui II

A pedido de várias famílias, aqui vão os amargos de postas de bitaites prometidos:

Nas portagens das auto-estradas, o trabalhador tem o prazer, aparentemente muito exclusivo, de levar com olhares aparvalhados dos portageiros.
Geralmente vêm em duas categorias, ou é a classificação "aaah, tão giro que ele é, tão pequenino", quando ele tem o rádio a tocar uma ópera, ou então a "aaah, que horror, um psicopata que entregou a alma ao diabo" quando é metal que sai das colunas.
O trabalhador garante que não está a imaginar coisas.

Isto serviu de sinédoque para o trabalhador reflectir no problema da intolerância em Portugal. O trabalhador é patriota e não participa no 'desporto nacional' do dizer mal, mas neste caso não pode deixar de pensar que por cá há um problema: Falta intolerância que se veja.
É que a situação assim como está... vá, não é grave, mas será, como dizer... parva!
A malta tem de ser racista com alguém, e como felizmente não há extremismos exacerbados, teve de se virar a agulha da sectarização para outro lado.
Para onde? Para essa corja de escumalha, essa súcia de piratas, arruaceiros e bandidos, os adeptos de música clássica.

As conversas típicas são divertidas e profusas em ironia. Discorrem em várias versões, eis alguns exemplos.
- Versão 1
Chato: PELO AMOR DE DEUS! QUE SECA! NÃO HÁ NADA MELHOR A DAR? QUALQUER OUTRA COISA MENOS ISTO! QUE LIXO!!
Adepto: Como podes dizer isso, quando há séculos que esta música é célebre, e...
Chato: JÁ SABIA! ÉS UM INTOLERANTE! DEVES ACHAR QUE ÉS MELHOR DO QUE OS OUTROS!! E ÉS UM LIMITADO SEM ABERTURA NENHUMA!!
- Versão 2
Chato: PORRA! QUE É ESTA MERDA?? TEM PACIÊNCIA, ISTO NÃO FAZ SENTIDO! E NEM SE PERCEBE O QUE DIZEM! PÕE ESTE MEU CD JÁ!!!
Adepto: Eu ponho, mas por acaso nesse CD também não se entende quase nada do que eles dizem, aliás como na grande maioria dos...
Chato: JÁ SABIA! ÉS UMA BESTA! DEVES ACHAR QUE ÉS MELHOR DO QUE OS OUTROS!! E ÉS UM LIMITADO SEM ABERTURA NENHUMA!!
- Versão infinitos:
Chato: AHAHAHAHAHAHAHAHAH! TU OUVES ISTO???!?? MAS... PORQUÊ??? ESTA MÚSICA QUANDO MUITO DÁ PARA RELAXAR, E MAL! AQUI NO RÁDIO NÃO TENS A RFM??
Adepto: Não...
Chato: JÁ SABIA! ÉS UM IMBECIL! DEVES ACHAR QUE ÉS MELHOR DO QUE OS OUTROS!! E ÉS UM LIMITADO SEM ABERTURA NENHUMA!!

Se o adepto da música clássica resolve debater a questão descendo ao mesmo nível, é um intolerante. Se resolve fazer algo melhor e explicar o seu ponto de vista por a+b+c, é um pretensioso. É então que o trabalhador estranha e questiona o mundo.
O adepto da música clássica aparentemente não é 'normal', abençoado seja, e como tal é sovado em público, porque as pessoas normais só gostam de pessoas normais. É então que o trabalhador exorta à análise sociológica.
É inesquecível a cena em que um carro, onde por acaso tocava uma intensa peça sinfónica, chegou ao pé do trabalhador, suscitando de um grupo de gente a seguinte reacção, e passa-se a citar "Fogo, o que é isto? Isto é o que ouve um assassino em série!". É então que o trabalhador se pergunta se não haverá aqui um problema.

Não é que quem diz essas maravilhas não seja bem intencionado. Mais até, pode ser a melhor pessoa que existe, mas enfim, toda a gente se engana.
As coisas mais incríveis, sem o mínimo de coerência ou conhecimento, são ditas como se fossem dogmas, e por vezes as pessoas nem se apercebem do que dizem.
Muito bem, é um país livre, cada um fala o que bem entender.
O trabalhador só acha, na sua humilde opinião, que se podia, lá está, arranjar uma intolerância de jeito, que esta como intolerância não é grande coisa.

E daí... olha, que fiquem as coisas como estão! Afinal é preciso embirrar com alguém, e os adeptos da música clássica são uns pseudo-intelectuais empinocados que ficam virgens toda a vida, portanto estão mesmo a pedi-las. Totós!

Só mais uma coisa. É possível que se veja o caso do adepto da música clássica como uma forma simples de falar de assuntos sérios, como o ponto de partida para a análise de outras questões que ocorrem na sociedade... Não o façam! É mesmo só isto, disparates sobre um assunto que não interessa a ninguém.
Este blogue também não pretende ser propriamente fulcral para o futuro da humanidade. Para isso já existem os programas da Júlia Pinheiro.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

É a mil II

Pelos vistos toda a gente fala de futebol.
Seja, o comentador não percebe muito do assunto e não liga nenhuma, mas é invejoso e também quer.

E ao que parece, existem várias coisas que o aborrecem no futebol... hum... sairá listinha, não sairá listinha... oh sim, sairá listinha!
Breve lista de coisas idiotas no futebol:
- Os dramas. Os jogadores fazem questão de mostrar a sua clara formação em tragédia clássica, entre o rebolarem em agonia depois de se atirarem para o chão sozinhos, ou o queixarem-se em prantos porque queriam outro número na camisola. E ainda dizem que os homens não gostam de telenovelas.
- As modas. O comentador sempre ouviu dizer que os jogadores chegam ao estádio várias horas antes do jogo. O que não suspeitava era que isso acontecia para que eles tivessem tempo de pôr a maquilhagem e fazer as 'nuances'. Lá porque estão suados e lamacentos, podem sempre estar bonitos.
- As entradas em campo. O comentador bem reconhece que é um desporto perigoso e com potencial de lesões, mas a superstição de entrar no relvado a fazer o sinal da cruz três vezes ao contrário, só serve para que a sua avó diga para a televisão "olha, viste, benzeu-se. Gosto deste."

Com desempenhos destes não admira que as pessoas depois digam que os jogadores de futebol são uns obcecados. E é verdade.
O que, atenção, é muito diferente de os considerar obsessivos-compulsivos, como algumas teorias insistem em advogar. Isso também já é exagero.
Aliás, o comentador sente-se até na obrigação de ressalvar que se passa justamente o oposto, se há coisa que um jogador de futebol não pode ser é obsessivo-compulsivo!

Dúvidas? O comentador não percebe como pode alguém questionar uma só palavra que seja dita por ele, mas passa a provar sem margem para hesitações.
Pense-se em cuspo.
Tão certinho como um jogador esfregar-se aos beijos no suor dos colegas quando há golo, ele vai cuspir o seu próprio peso durante um jogo.
Não dá para entender como é possível que se meça o número de cartões, a quantidade de faltas, os Km percorridos, e não se contabilize o número de escarras deitadas ao relvado. O volume de cuspo em litros. A consistência da saliva por equipa.
A razão antropológica para que os jogadores façam tais maravilhas é um mistério, mas isso pelo menos explica porque é que antigamente, no tempo em que o comentador via futebol, os equipamentos eram diferentes.
Para começar, usava-se calções. Agora é mais uns lençóis, e daqui a uns anos será uma gabardina com carapuço. Não dá para correr mas ajuda a que o brilho nos cabelos seja mesmo só do gel...

Adiante, a conclusão é que dificilmente um obsessivo com compulsões psicológicas poderia mexer-se naquilo que lhe ia parecer um banquete de 'nhanha'.

Contudo, se ainda assim não há consenso, imagine-se então um jogo de futebol em que uma das equipas é constituída por obssessivos-compulsivos.
É complicado quando um dos centrais vai sempre a olhar para o chão porque não gosta de pisar o branco, mas pior é o lateral que se recusa a pisar verde e então só anda nas linhas.
Tem um trinco que não percorre o campo nos dois sentidos, pelo que quando chega ao fundo tem de sair e dar a volta.
O médio ofensivo que só joga em campos que estejam voltados para Noroeste.
Também tem um ala esquerda que antes de chutar a bola tem de lhe tocar com a mão, em estreita articulação com o avançado que só joga nos minutos que tenham o número 5.
E depois há o ponta de lança que poderia ser a estrela da equipa, mas gasta duas embalagens de sabonete em cada parte, além do sabão macaco com que esfrega os adversários.
O melhor que esta equipa já conseguiu foi perder por 36 a 0, embora o guarda-redes, que não aguenta números menores do que 40, tenha metido 4 auto-golos no período de compensação...
Não funciona. Dúvidas esclarecidas.

Poderia deixar-se aqui alguma indicação em como não se pretende ser ofensivo, e que não se brinca com coisas sérias... mas isso seria obsessivo-compulsivo, portanto não vai ser feito.
Além de que isso poderia destoar das lições de vida que o comentador acabou de lançar sobre o mundo. E pensar que no início do texto ele dizia que não percebia muito de futebol...!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Ir pela sombra

O escritor tem uma nova participação na Minguante, revista de micronarrativas com publicação na internet, em "minguante ponto com".
A deste mês trata do tema "Fim", um assunto muito do agrado do escritor.
A biografia pessoal é que ainda não foi alterada para alguma coisa de jeito, mas está na linha das biografias dos seus colegas, e o escritor pensa que foi por lá que apanhou a mania de falar de si próprio na terceira pessoa...

Mas o tempo não é para graçolas. Dizem os editores da Minguante que este foi o último número, se não em definitivo, pelo menos por agora.
Um monumental balde de água fria, para dizer o mínimo.
É por isso que este blogue poderá vir a servir para continuar a 'publicação' de micro-narrativas que o escritor iniciou nessa saudosa revista...
Para o pessoal da Minguante vai um abraço e um até breve, para quem não conhece a revista vai uma recomendação de visitas demoradas à página.


A peça em dois actos do escritor é que continua a avançar a passo demasiado vagaroso. Mas está feito o compromisso, selado pelo carimbo indelével e fidedigno da internet: em 2010 terá de estar terminada.
Os últimos desenvolvimentos dizem respeito à remoção de uma personagem. Não tinha lugar no enredo, teve de desaparecer por completo. Todas as suas deixas eliminadas, toda uma entidade obliterada. Mais do que ser morta, nem nasceu. Um homem suprimido da existência, só para satisfazer o capricho e a vontade do escritor. É um poder demasiado grande!...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Amanda-le

O latifundiário tem quase a certeza de que comprou uma casa. Ele acha que era numa rua calminha, onde as casas até eram todas iguais e encostadas umas às outras.
Ele podia mesmo jurar, mas os gajos arranjam formas extraordinárias de que fazer com que ele já duvide de si próprio.

Quando a casa demorou quatro anos a aparecer, o latifundiário pensou se não se teria equivocado...
Quando a casa, ao aparecer finalmente, não era bem como vinha nos esquemas dos arquitectos, o latifundiário hesitou se não teria sonhado tudo...
Agora, quando a Companhia do Gás diz que a rua tem o número 5, o 7, o 11, o 13, e todos os números ímpares alguma vez escritos pela mão humana... menos o 9... O latifundiário começa seriamente a pensar se a compra aconteceu mesmo.

Entretanto, quando ele liga para a Companhia, os diligentes telefonistas parecem indiciar que a casa na verdade não existe porque o mundo é todo vácuo e ilusão, e que realmente o contínuo espaço/tempo é uma mentira.
Na Caixa Geral, por outro lado, ainda estão nas paredes as marcas do vomitado que os nervos do latifundiário lá deixaram, no dia em que assinou a escritura.

Em quem acreditar?
Quem concordar com a opinião do latifundiário, que acha que o '9' também faz parte dos números ímpares, é favor assinar na 'petitiononline'.
Se alguém, por outro lado, sempre quis viver numa casa fantasma que oficialmente não existe, é favor fazer a sua oferta na 'ebay'.

Comprar uma casa é um grande acontecimento na vida de qualquer pessoa, e o latifundiário está feliz. É este o desafio, partilhem dessa felicidade!



E no que toca a desafios, o latifundiário soube de outro, também esta semana.
E este resume-se numa palavra:
Diasfendonese.

E pronto, é isto. Diasfendonese.

Eventualmente poder-se-á perguntar, o que é diasfendonese? Bem, diasfendonese, tal como o nome obviamente indica, é um ritual de esquartejamento da Grécia Antiga, mas não é essa a questão.
A questão é que um bom amigo do latifundiário descobriu esta palavra, e ficou chocado ao constatar que também estava na internet. Conta ele que iniciou então uma busca intensiva, e não encontrou palavra, por mais rara ou estranha que fosse, que não estivesse mencionada pelo menos uma vez na rede global.

Diz ele que ao fim de horas ia sarrafaçando o computador todo e nada, pelo que tomou uma decisão.
Uma vez que ele é uma pessoa que quem o conhece sabe que gosta de objectivos e desafios, - e o latifundiário diria mais que ele não leva a mal, é uma pessoa de pancadas - resolveu lançar um repto:
Ele oferece 40 euros à primeira pessoa que encontrar uma palavra da língua portuguesa que não esteja na internet.
Tem de ser uma palavra legítima, que terá de ser provada através da apresentação de um livro/dicionário onde ela esteja definida.
A oferta aumentará 10 euros por cada mês que passar a partir de Junho.

Isto não é piada, é mesmo um concurso sério, com dinheiro vivo. O latifundiário não sabe o regulamento todo, mas ele existe e está escrito.
Só não é ao nível do totoloto porque o prémio é menor e faltaram as trombas dos membros do júri dos concursos.

Ele pretende somente provar que a internet ainda não é o maior repositório de conhecimento humano, e não pode suplantar centenas de bibliotecas com séculos de existência.
Nas palavras dele, "Se existir ao menos uma só palavra que não esteja lá, então a internet ainda não tomou conta das nossas vidas".

Pretende ainda que o concurso se espalhe, pelo que fez prometer ao latifundiário que aqui o iria divulgar. O latifundiário teve o cuidado de lhe dizer que se ele conta com este blogue para difundir seja o que for está um pouco enganado, mas cumpriu o prometido.

Agora, também lhe apetece dizer acerca disto, a probabilidade não é alta. O facto de se encontrarem desafios como os que foram escritos aqui, é a prova mais do que provada de que na internet há mesmo de tudo!
De qualquer modo, boa sorte!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

É a mil

Do Brasil chegam notícias às mãos do analista...

O piloto brasileiro de fórmula 1 Rubens Barrichello assumiu num programa de televisão que apenas fingiu ser amigo do seu antigo colega de equipa, Michael Schumacher.
A notícia caiu como uma bomba.
Já se iniciou uma gigantesca romaria de solidariedade para com o alemão. Estima-se que cerca de quarenta mil pessoas irão caminhar com flores até às várias casas de Schumacher espalhadas pelo mundo. Espera-se contudo que este número aumente, até para que se tenha mais do que meia dúzia de pessoas por casa.

O presidente da ONU, por outro lado, diz que "já era tempo!", e o analista sente-se obrigado a concordar...
Põe-se fim a uma polémica que se arrastava há anos:
Seriam Barrichello e Schumacher amigos? Poderia Barrichello estar a fingir?
A verdade é que os sorrisos que eles trocavam eram muito convincentes, e todos se lembram do vídeo no 'youtube' em que se vê nitidamente e em câmara lenta Barrichello a dar ao colega uma palmada nas costas.
Por outro lado, e tal como sempre afirmaram os defensores da teoria agora confirmada, como explicar os rumores persistentes de que Barrichello nunca tinha convidado o alemão para tomar um chá? Isto apesar de ser público que o piloto brasileiro é um apreciador, tendo mesmo sido visto a bebê-lo nas boxes com os mecânicos que trocam os pneus.
Schumacher, por sua vez, não convidou Barrichello para a primeira comunhão do filho, algo que os fãs do brasileiro nunca perdoaram.

Agora tudo foi explicado. E chega assim ao fim uma espiral de boatos e suspeitas que ameaçava escalar para o pânico colectivo.



Outra notícia dá conta da construção de muros de betão que o governo brasileiro pretende erguer à volta de algumas favelas do Rio de Janeiro.
Oficialmente a ideia é controlar o crescimento desmesurado destes bairros pobres, que ameaçam a floresta nativa à volta.
Várias organizações já manifestaram, por outro lado, fortes preocupações com o que julgam ser uma segregação geográfica e social.

Agora, só uma mente néscia pode pensar que as duas notícias não estão relacionadas!
Com uma quantidade irrisória, porém intensa, de investigação, o analista descobriu que a verdadeira razão da construção dos muros é prender Edivelson Jorivalson, um morador das favelas que fingiu ser amigo de Barrichello.

O governo não conseguiu encontrar o Jorivalson em questão, de entre os três milhões com esse nome que lá moram, pelo que optou por isolar tudo.
O problema é que as buscas demoram, porque no muro não é permitido colar cartazes. Diz o governo que é branco e suja-se com facilidade. Além de que é a única construção dos bairros que não é maioritariamente constituída por contraplacado, pelo que foi considerada monumento municipal.
Ainda não se efectuou a cerimónia ao monumento porque Barrichello, o convidado especial, terá ficado destroçado com a notícia de que Jorivalson afinal não é seu amigo, surgindo mesmo relatos de que se recusa a beber chá.

Tudo isto contribuiu para gerar uma onda de manifestações, apenas sanadas quando um relações públicas do governo veio a público afirmar que o muro era "uma espécie de muralha da China, mas com utilidade".
Contudo, é relatado o testemunho um porta-voz dos moradores do morro, segundo o qual o problema não é o isolamento, é fazerem-nos parar de destruir a floresta, pelo que eles deixam de ter com que se entreter.

A 'Globo' está já a preparar a telenovela. Em nome da humanidade, obrigado Brasil!

Choram as pedras (2ª parte)

Ou os desapontamentos de cinco portugueses e um espanhol de Leiria, às voltas no estreito mediterrânico.
Continuação dos capítulos anteriores...

Capítulo 4, a jóia africana.
Os viajantes gostavam de fazer compras, até que um dia foram a Ceuta:
Um sítio onde os produtos de de maior classe estão ao nível do refugo da feira da Ladra é um paraíso para o comércio.
E depois é um exemplo de harmonia social, já que na zona turística não há nativos, e na zona habitacional não há turistas. Excepto um dos viajantes, que era olhado de lado, e levantava dinheiro em máquinas que pediam o código três vezes e, diziam "Olhe bem à volta para ver se é seguro. Depois, se ainda quiser o dinheiro, prima a tecla verde". Não é piada.
Como forma de adaptação optou-se por uma mudança ligeira no vocabulário. Assim, a palavra "badalhoca" passou a servir para "obrigado", "por favor" e "adeus". Descobriu-se que, desde que dito com um sorriso simpático e um aceno da mão, pode-se gritar "Badalhoca!!" a qualquer estrangeiro, que ele ainda nos sorri de volta.

Capítulo 5: A vida animal em Gibraltar:
Os viajantes gostavam de animais até levarem com uns sacos de pêlo em forma símia:
Não são as pessoas que encontram os macacos, mas o oposto. Basta parar o carro em qualquer parte e eles aparecem. Depois põem-se com um ar de imbecis a olhar para ontem, enquanto a malta se põe ao lado deles e tira fotografias de boca aberta a mostrar o teclado todo.
Pois os viajantes aproveitaram para observar, imbuídos do mais progressista espírito científico, o rabo verrugoso de uma macaca... Foi por essa altura que um deles resolveu finalmente mexer-se - ai, tão giro ele a andar. Depois aproximou-se do carro - que querido, não tem medo. Aí entrou pela janela do banco de trás e saiu com o saco da comida - agarrem esse cabrão!
E depois punha-se a abrir a boca, em ameaça, a quem esticava a mão para recuperar o saco. Resultado final, os seres menos inteligentes que ali estavam acabaram a passar fome.
Macaco pulguento, a tua mãe é a oferecida aí do bando!

Capítulo 6, estreitos laços.
Os viajantes gostavam de comércio tradicional, até um deles ter conversado com um merceeiro gibraltino de dedo leve:
Viajante- Levo este pacote de bolachas, este sumo e este saquinho com duas carcaças. Quanto é? Merceeiro- (lentamente pega na calculadora... carrega muito devagar nas teclas todas... várias vezes... depois soma... depois mais teclas... depois multiplica...) Nove euros e setenta.
V- Quanto?!?
M- Nove euros e setenta.
V- Nove???
M- Nove euros e setenta.
V- Não pode ser...!
M- Nove euros e setenta.
V- Então e sem as carcaças, quanto é?
M- (lentamente pega na calculadora... fica um tempo incrível a carregar em teclas......) Dois euros.
...Fica lá com as carcaças. Badalhoca!

Enfim, se não fosse terem os viajantes conseguido algumas abençoadas horas de descontracção e sossego em quilómetros de filas de trânsito, e tinha sido uma desgraça de fim-de-semana.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Choram as pedras II

Coisas que o condutor viu hoje:

- 9:30, Um casal a fazer a sua corrida de treino, o seu 'jóguingue' matinal, na A5.
- 10:00, Uma carroça de palha puxada por um burro pachorrento, a passear na A8. (Bem, tecnicamente esta vinha no viaduto que cruza a A8, mas também devia contar!)


Coisas que o manequim ouviu ontem:

- Não se pode usar preto com azul escuro. Porquê, a Fátima Lopes disse. É preciso ver que nesse dia o manequim estava de preto e azul escuro. A gravata que ele tinha, verde-musgo com riscas amarelas, também destoaria?
- De manhã, um tipo todo cabelo à conhinhas a dizer a um outro que Quim Barreiros era "uma treta", tendo o apoio de todos. Como resposta, o outro disse "E tu só ouves Oasis, para mim é isso que é treta", tendo sido vaiado e quase cuspido por todos por se "armar em bom". O manequim pensou que se podia mudar a canção de 'Grândola' para 'Torres Vedras'.
(Esta conversa deu inspiração. No blogue vão sair amargos de postas de bitaites!)
- Ao fim da tarde, uma rapariga contava a outras que tinha aprendido que o 'ponto com' das páginas de internet se dizia "côm" e não "cóme". Foi gozada e quase cuspida pelas outras. O facto de a pessoa que tem razão não se meter com ninguém, e que quem está errado é que ainda manda vir, não pareceu contar para a questão.
(Ai vão sair no blogue, vão! Ai vão, vão!!!!!)


Coisas que o actor debateu antes de ontem:

- O actor foi contratado para filmar uma peça de teatro no FATAL. A peça é numa garagem enorme tipo centro comercial, ocupa a garagem toda, aquilo é só pilares que tapam os ângulos, os actores passam a correr e mal se conseguem apanhar, e está tudo escuro e sem luz. Há quem ache que vai ser difícil. Amadores!
- Vai haver uma mega-festa com várias atracções e música ao vivo, organizada pelo grupo de teatro Nova Morada. Para essa ocasião, o actor foi convidado a desfilar em fato de banho. Por favor, tudo o que ele pede é que seja uma tanguinha!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Choram as pedras

E as desilusões de seis alegres viajantes ibéricos a rondar o estreito mediterrânico.

Capítulo 1, passeios pela fresquinha.
Os viajantes gostavam de sentir no rosto uma brisa refrescante em dias de calor, até levarem com os ventos do demo:
Naquela zona são vinte e quatro horas por dia de ciclones. Praias repletas de cercas, senão o povo era enterrado vivo. O sol abrasador a provocar escaldões na cara, mas o corpo vestido com duas camisolas e um blusão. Mulheres a agarrar as saias, homens a agarrar os bonés. Barreiras das obras a desaparecerem para dentro dos buracos que era suposto assinalarem.
Isto sempre. De manhã, à noite, e em dias feriados. Deve ser por isto que os antigos diziam que "De Espanha nem bom vento nem bom casamento".

Capítulo 2, rapar o tacho.
Os viajantes gostavam de almoçar numa bela esplanada de restaurante, até experimentarem o menu sete euros:
Inclui uns cogumelos saborosos, trazidos por uma empregada nova que podia ser gira se não estivesse pintada que nem uma rameira barata. O facto de ter um decote que lhe punha as mamas quase de fora quando se debruçava estava condizente.
Seguiu-se uma massa manhosa que queria passar por bolonhesa, ou em alternativa um arroz com favas que tinha aquele sabor inconfundível de quando fica agarrado ao fundo do tacho. Mas não levemente queimado, é aquele esturricado de quem se esquece do lume. Pelo menos disfarçou o cheiro do sebo.
As coisas que os viajantes pediam eram trazidas depois de pedidas rigorosamente por três vezes, excepto uma colher para poder comer a sobremesa, que um dos viajantes espera até hoje.
Terá sido da escolha, que optou pelo mais barato? Ao jantar rectifica-se...

Capítulo 2, alínea B:
Os viajantes gostavam de jantar em sítios requintados, até terem ido a uma pizaria supostamente 'gurmê', que não tinha água nem café.

Capítulo 3, cruzeiros pelo mar cristalino.
Os viajantes gostavam de andar de barco, até serem atacados, na travessia para África, pelo Adamastor em pessoa:
O mar estava tão picado que o barco, apesar de não ser propriamente pequeno, chegava a levantar no ar, para depois bater a pique e com estrondo.
Caíam as coisas das prateleiras das lojas, caíam as próprias prateleiras das lojas. As pessoas que se arriscavam a levantar-se balançavam tanto que andavam de lado e não de frente, algumas só paravam no chão.
Uma quantidade apreciável de passageiros deixou o pequeno-almoço no chão, nos corredores, nas salas, nas paredes. Os que conseguiam chegar à casa-de-banho não passavam da porta, por causa da fila. E muitos que pareciam escapar à regurgitação colectiva acabavam por ir lá parar com o cheiro a vomitado que infestou o barco.
Os seis viajantes, depois de iniciarem uma sessão de molhas e 'performances' teatrais que muito divertiram os passageiros da varanda, optaram logo por vir para dentro e sentaram-se muito quietos e muito calados, a segurar o estômago.
Ao chegarem por fim ao lado muçulmano, pensaram seriamente em ajoelhar e beijar o chão.

Continua numa próxima edição...