quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ir pela sombra VI

Na colecção "Ecoponto"...

Micro-narrativa: A Superstição

Título: Lengalengas supersticiosas ou Porque é que um texto sobre sorte e azar acaba logo em disparate


< Trágica
Foi por ter recebido da vidente a sina “você vai morrer num acidente de viação”, que deixou tudo e se mudou para o deserto de Marrocos.
Foi por estar no meio do deserto de Marrocos que morreu atropelado por um jipe descontrolado.

< Intrigante
Nesse dia, Eliseu e a sua equipa de corfebol iriam bater o recorde mundial de vitórias consecutivas.
Nesse dia, Eliseu enganou-se. Antes do jogo, enquanto beijava doze vezes a parede e cantava o seu refrão com a camisola da sorte e as meias do avesso, saltitou no pé esquerdo em vez do direito.
Nesse dia, Eliseu e a sua equipa perderam por 30 - 0.

< Absurda
A caminho do encontro romântico, ela assustou-se com o gato preto que se atravessou à sua frente e partiu o espelho da maquilhagem quando caiu por baixo da escada que estava à porta do número 13. É preciso ter azar, mas valeu-lhe o facto de levar calçados os chinelos de patas de coelho.
A caminho de casa, ela achou uma ferradura. É preciso ter azar, não era do número que calçava nenhum dos seus cavalos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Choram as pedras VII

Esta conversa tem acontecido muitas vezes ao conversador, e recentemente deu-se três vezes na mesma semana.

A conversa é sobre símbolos. E quando o conversador começa a atirar umas bujardas, perguntam-lhe onde leu ele essas "teorias".
Mas ele não leu nada, limitou-se a juntar factos. De qualquer modo, isto parece espantar imensa gente, por isso aqui se deixa uma versão simplista, muito simplista mesmo:

Os símbolos sempre acompanharam o homem, desde os primórdios.
Mas o homem está cá há demasiado tempo, e tem tendência para ser conflituoso. Então as representações pictóricas diluem-se.
Façam um esforço de imaginação e pensem que, hipoteticamente, um quadrado é o símbolo da NOITE, e um rectângulo com uma pinta no meio é o símbolo do DIA.
Já imaginaram? Agora, pensem como um quadrado se estica facilmente, ao mesmo tempo que um rectângulo pode rapidamente perder a pinta. Tem-se então que, ao fim de algumas gerações de pessoas a desenhar, o símbolo do DIA e da NOITE são iguais e não se distinguem.

Não está claro? Exemplos:
No segundo milénio A. D. houve o advento da religião católica, com a sua 'táctica inovadora' de absorção de outras religiões. Assim, os dias sagrados para os "pagãos" foram transformados em feriados católicos, e os respectivos símbolos desvirtuados.
Adicionando a recente influência de muita gente tão bem intencionada como estúpida, agora nunca se sabe quando é que um símbolo de repente se revela como sendo... ui... "satânico".
O caso que possivelmente mais se comenta é o denominado "sinal de cornos". Um sinal que basicamente é ao mesmo tempo do BEM (para uma religião dita gentia) e do MAL (para uma religião dominante)...
Escolheu-se este entre muitos por ser um caso particularmente interessante, já que por evolução da sociedade contemporânea também é hoje símbolo de PAZ e de REBELDIA ao mesmo tempo. Pimba, mesmo para trocar as voltas à malta. Um gajo estica dois dedos e já não faz ideia do que quer dizer com isso!

O exemplo mais simples, o círculo. Símbolo da PERFEIÇÃO desde que o primeiro homem desenhou o primeiro círculo.
E essa perfeição implica que um objecto colocado dentro de uma circunferência é protegido. Protegido?! Tragam a água benta que isso soa a magia negra! Pois, o círculo é agora também um símbolo do "OCULTO".
Mas não só. Já pensaram na quantidade de significados que se pode dar a uma circunferência? Não deve ter havido uma única civilização na História que não a tenha desenhado...
Pois é, uma coisa tão simples com uma bola não pode então ser desenhada de ânimo leve, e é esta tanto a beleza como o 'perigo' dos símbolos.

Mas o caso favorito do conversador começa com o antigo sinal das três luas.
Um crescente, um minguante e uma lua cheia fazem um antiquíssimo símbolo do ciclo da vida. E a lua crescente é uma evocação da fertilidade. Rapidamente alguém se lembra de juntar os dois, criando um sinal com três luas todas crescentes. Dispostas em círculo, claro, devido ao equilíbrio que isso proporciona.
Pois consta que foi aí que o Charles não-sei-quantas se baseou para criar o símbolo para perigo biológico, em inglês 'biohazard'. Sim, aquele símbolo engraçado que se vê nos laboratórios é uma adaptação moderna de algo que já existia há milénios. Portanto, aqui temos algo que é ao mesmo tempo símbolo de VIDA e símbolo de PERIGO DE MORTE. Esta é como o fiambre, extraordinária.

O último exemplo, pois é este que costuma realmente causar admiração. A cruz invertida.
Houve uns tipos meio alucinados e muito armados em rebeldes que quiseram gritar aos quatro ventos a sua fervorosa anti-religiosidade. Para eles a religião era a raiz de todos os males, e portanto foi um passo até à ridicularização dos símbolos cristãos. Viraram então a cruz ao contrário.
(A cruz como símbolo também já existia há milénios, é preciso não esquecer. O que só faz sentido, é um conjunto de linhas tão simples e ao mesmo tempo tão poderoso, que o homem sempre o desenhou, tanto a cruz cristã como, por exemplo, a suástica. Mas adiante...)
A cruz ao contrário é então um símbolo da não-religião. Depois vieram uns tipos meio alucinados e muito armados em profetas que acharam que não-religião é o mesmo que adorar o mafarrico, e portanto a cruz invertida é o símbolo do Diabo.
Acontece que S. Pedro... (sim, tem "S." antes, é porque é santo), o apóstolo Simão Pedro, o pescador, a "primeira pedra" da Igreja Católica, foi condenado a morrer crucificado. E, embora não se tenha a certeza da veracidade desta notícia, diz-se que ele se recusou a morrer como Jesus Cristo, pelo que o crucificaram de cabeça para baixo. Numa cruz invertida, portanto.
S. Pedro foi o primeiro papa. Deste então todos os papas são os representantes de S. Pedro na terra. E o símbolo de S. Pedro continua a ser uma cruz invertida. C'um caraças, o trono do papa, no Vaticano, tem uma cruz invertida em posição bem central!
Faltava esta para terminar em beleza, algo que é ao mesmo tempo símbolo de RELIGIÃO e de ANTI-RELIGIÃO.

Pronto, foi isto que o conversador não resistiu a deixar escrito neste blogue que, vejamos, é ao mesmo tempo um símbolo de ABSOLUTA PARVOÍCE e de PALHAÇADA IDIOTA.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Amanda-le VI

Há pessoas que não gostam de ler nada de nada de nada.

Para todas as outras há "O dia em que te recordei".

O leitor vai-se abster de fazer a apologia da leitura, hoje não se sente petulante e quem não gosta de pegar num livro que não seja "A Bola" está no seu direito.
Não, o leitor vai apenas fazer a apologia DESTE livro. Porque todos aqueles que lêem, mesmo que seja só de vez em quando, deviam prestar atenção a este título.

"O dia em que te recordei", pela editora TEMAS ORIGINAIS, é a primeira obra de uma nova autora. E 'nova' é a palavra ideal, pois Rita Cipriano mostra-nos o seu talento do alto dos seus dezanove aninhos.

Sim, Rita Cipriano tem o mesmo apelido do leitor. Sim, são de família. E sim, fazendo a soma, dezanove anos ainda conta como 'adolescente'.
Valerá então a pena ler este livro? Não será o leitor parcial, tratando-se da sua prima? É possível, mas não lhe parece.
Pelo contrário, o leitor quer destacar em letras grandes que se trata de alguém da sua família, porque sente orgulho, e quer deixar assinalado em luzes de neón que se trata de uma adolescente, porque isso torna ainda mais impressionante a maturidade e a força da escrita.

Prosa poética sobre Lisboa, ou a cidade vista de quem marca encontros com pessoas em busca das suas memórias... e acaba por se encontrar com as memórias e não com as pessoas.
Acreditem, é bonito de ver, e de ler.

Sigam este conselho, encontrem este livro e sentem-se num local onde se possam abstrair um pouco, depois investiguem as páginas e sejam esmagados pela dimensão eloquente do mundo que a autora criou.
Quem conhece o leitor sabe que ele lê imenso, e não é todos os dias que se encontra uma atmosfera obscura capaz de ensinar umas quantas coisas à célebre autora da saga "Crepúsculo".

O leitor pode tentar mover a sua influência e ver se consegue umas cópias mais baratas. Ele nem consultou a autora sobre isto, mas se ela não se chatear e se sentir benevolente talvez até as autografe.
Têm noção do que um autógrafo de Rita Cipriano pode valer daqui a uns anos?


Desta vez o leitor nem vai terminar a entrada com uma piadola. O assunto é sério.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Amanda-le V

O editor terminou um pequeno filme para o Grupo de Teatro Nova Morada. Trata-se da apresentação (à inglesa, trailer) da última peça dramática, e pode ser vista aqui:

http://www.horazero.webs.com/

O editor agradece que sejam deixados aqui comentários acerca da qualidade da montagem, ou falta dela.
O editor também está disponível para quem precisar de trabalhos destes, e leva barato. Se conhecerem alguém que precise, avisem, o editor agradece.


O editor gostava ainda de acrescentar que a peça estreia no sábado dia 17, no palco do Grupo, em Paço de Arcos, pelo que se querem ver teatro de qualidade podem e devem aparecer.
Se alguém quiser bilhetes, o editor consegue arranjar alguns de graça, peçam enquanto duram.

Para festejar a estreia foi organizado um espectáculo que complementa a peça. Assim, a primeira parte da noite vai estar a cargo do agrupamento musical Banda Gástrica, famoso por êxitos como "Não me dês morcela, Cacilda" ou "Anda cá que eu sopro", ou ainda o recente clássico "Vai tudo e é de costas!".

Cumprimentos respeitosos,
O Editor.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

É a mil V

Ano Internacional da Astronomia passa a Ano Internacional da Ficção Científica



Um estudo insuspeito, provavelmente encomendado pelas Nações Unidas, concluiu que o ano de 2009 deverá perder a designação de Ano Internacional da Astronomia, passando a denominar-se Ano Internacional da Ficção Científica.
Os fãs deste género cultural já se manifestaram em protesto. Várias marchas foram planeadas, onde se espera que haja uma adesão de milhares de pessoas. Segundo porta-vozes das entidades organizadoras, Ficção Científica é demasiado genérico e 2009 deveria chamar-se «o Ano Internacional da Confederação Spock Gallactica de Darth Vader».
Em conferência de imprensa, os directores do estudo não quiseram comentaram as anunciadas marchas. Afirmaram contudo que este não será apenas um retoque no nome com vista a torná-lo mais atraente, mas antes uma nova escolha que reflectirá melhor a sociedade. Ficção Científica será muito mais actual, porque, e passa-se a citar, «hoje em dia parece que já não sabem o que inventar e isto anda tudo doido».
Questionados sobre o significado destas afirmações, os citados directores responderam com um exemplo. Afirmam eles que o facto de quererem acabar com todos os livros, substituindo-os por consolas de leitura, é «digno de um episódio da série “Espaço 1999”… que já agora, toda a gente sabe que foi o Ano Internacional das Pessoas Idosas».
Foi ainda revelado que a conclusão do estudo não foi uma decisão unânime. Alguns cientistas queriam guardar a nova designação até 2010, onde se espera que várias realidades agora obsoletas sejam reformuladas. Para além da consola de livros deverá surgir o pequeno-almoço virtual e o sexo a fingir, ambos com aromas realistas libertados de um ecrã e sofisticadas colunas estereofónicas.
Os jornalistas aproveitaram a conferência para interpelar os cientistas acerca da eventual relação entre as conclusões do estudo e outras áreas da sociedade, como a política mundial, mas a resposta foi peremptória: «nós dissemos Ano internacional da Ficção Científica, não dissemos Ano Internacional da Parvoíce».
Fica assim extinto o único nome popular que um Ano Internacional já teve, pelo menos em Portugal. Isto porque, como se sabe, Ano Internacional da Astronomia em abreviatura fica AIA, e as pessoas habituaram-se a classificar 2009 como o ano “AIA Minha Vida”.