terça-feira, 7 de junho de 2011

Vai já daqui XI

(este texto já tem uns meses e já vai atrasado, mas ninguém se importa com isso)


Lá diz o ditado, o socialismo é bonito e o descriminado gosta.

Em pleno 2011 e a descriminação laboral sonora continua.
E pelos vistos não adianta mudar de local de trabalho, ou de área de emprego, este flagelo dá em todo o lado.

Só para dar um exemplo entre muitos: Quando o pobrezinho, é tão descriminado, coitado trabalhava num jornal, aquilo era House/Dance todos os dias em altos berros. Até que um dia o pobrezinho, é tão descriminado, coitado colocou uma música de Metal. De repente o patrão avisou, já não se podia pôr música. Isto durou dois dias, depois voltou a martelada.

Actualmente, na agência, há uma aparelhagem sempre ligada numa estação de rádio, que alguém vai mudando, para haver variedade.

Até ontem, quando algum infeliz a colocou na Antena 2.

Em primeiro lugar, o pobrezinho, é tão descriminado, coitado ficou logo com a fama de ter sido ele. Em segundo lugar, pela primeira vez desde que existe aparelhagem, toda a gente disse mal da música que estava a dar.

Em toda a agência estavam só duas pessoas a prestar atenção, o pobrezinho, é tão descriminado, coitado, e outro colega.
(A propósito, era o Requiem de Mozart, uma peçazinha que, enfim, há já uns anitos que a consideram até nem ser assim tão má como isso)
E então lá tiveram os dois, o pobrezinho, é tão descriminado, coitado e o outro, de levar os comentários pobres do costume, tão giros, a ouvir estas coisas, que amorosos, parecem uns homenzinhos.

Houve um colega mais perspicaz que perguntou como é que os músicos que tocam isto não adormecem a meio...
Oh sim, esse é o flagelo das orquestras. Volta e meia há um trombonista que cai da cadeira, há uma secção de cordas que ressona.

E este é o pessoal que diz "ah, eu ouço de tudo". O pobrezinho, é tão descriminado, coitado, avisa: desconfiem de "ah, eu ouço de tudo". Por experiência, é uma frase da treta.
Geralmente esse pessoal é fixe e bem intencionado, mas só ouve Pop/Rock do tipo americano, cantada em português e inglês. Isso engloba todo um mundo de sons, mas ainda lhe falta muito para ser 'tudo'.

Mas o pobrezinho, é tão descriminado, coitado não quer perder o raciocínio.
É que hoje a aparelhagem está numa rádio daquelas de segunda linha e que não têm dinheiro, então só passam aquela pop pobrezita feita por bandas de garagem. Mas caramba, isso é que é ouvir aqui o pessoal todo a cantar em coro!

Enfim, talvez o pobrezinho, é tão descriminado, coitado, devesse ver as coisas pelo lado positivo. É graças à Música Erudita que eles estão assim tão felizes. Está bem que é por não terem de a ouvir, "que já bastou a seca de ontem", mas o que é certo é que é graças a ela. E isso já é um passo.

E de qualquer modo, o pobrezinho, é tão descriminado, coitado está alegre neste preciso momento. É que no segundo em que acabava de escrever o parágrafo anterior, a tal rádio de segunda linha começou a dar um grande Moonspell.

(Correcção, os colegas já toparam os Moonspell e já começaram a refilar. Já lhe passou a alegria)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Ir pela sombra VIII

Micro-narrativa: A Traição.


A aranha percorreu indolente a sua teia, em direcção ao centro.

Mais uma presa a debater-se para se livrar da morte certa.
Que tédio!... pensaria a aranha, se as aranhas pensassem.

Era uma mosca.
Quando viu a aranha, tentou libertar-se uma última vez, em desespero.
Isto se as moscas sentissem desespero.

Quando a aranha já estava prestes a tocar-lhe, a mosca voltou-se subitamente para ela.
A aranha podia tê-la capturado. Podia estar numa posição de total superioridade. Podia injectá-la com veneno até que o seu corpo se liquefizesse e podia até comê-la depois. Mas nunca saberia o que era voar.

A aranha parou. Não era possível ter entendido o que um animal de outra espécie dissera, e no entanto ficou a olhar para a mosca durante muito tempo, indecisa.
Finalmente a aranha fez uma pergunta.
Como era voar.

A mosca disse que era a maior sensação de liberdade. Era a razão para se ter inventado a palavra liberdade. Era ter o mundo, e todos os elementos, e todos os cheiros, e todas as atmosferas, ao nosso dispor.

A aranha examinou demoradamente o seu próprio corpo. Depois, o corpo da mosca. Passou com lentidão as suas patas pelas asas da mosca. As suas quelíceras mortíferas, dois ferrões a pingar veneno, perscrutaram toda a carapaça da mosca.
Se as moscas sentissem emoções, esta teria conhecido o gosto metálico do medo puro.

Depois, subitamente, a aranha soltou a mosca.
A mosca levantou voo. Ficou a pairar sobre a teia e sobre os 8 olhos deslumbrados da aranha.
Ensina-me a voar.
A mosca fez um gesto subtil com a cabeça. Como quem diz.
Deixa-te cair.

A aranha atirou-se da teia.
E mergulhou para o negro da floresta.

A mosca não chegou a assistir à morte certa da aranha.
A imagem da queda foi a última que viu, antes de os seus órgãos se desfazerem.
Uma alegria perversa foi o seu último pensamento, antes de o seu corpo se liquefazer por dentro.

Já não sentiu quando a aranha a começou a comer.
Mas pelo menos a última imagem do sonho foi bonita, de doce e poderosa e saborosa vingança.

Isto se os bichos fossem capazes de sonhar.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Inventam-nas todas XIV

Porque é que fazer Geocaching é uma tragédia pegada?

Dois gajos combinam fazer uma sessão deste popular desporto. Para quem não sabe, implica procurar 'tesouros' com um GPS - vejam na internet.
Vão então o Ricardo (nome fictício) e eu (escrevo 'eu' apenas para facilitar a escrita, isto não se passou comigo) direitinhos para Belas.
Objectivo, encontrar umas caixas ao pé do Aqueduto das Águas Livres.

A primeira caixa tem umas coordenadas que nos levam a um sítio espectacular, mas onde não há tesouro nenhum.
Procurei e vasculhei (ou melhor, quem vasculhou foi um conhecido meu, que me contou esta história), mas caixa nem vê-la.
Não é grave, mas pode-se dizer que não começou lá muito bem.

A segunda caixa ficava ao pé de uma Mãe d'água. Na descida para lá, o Ricardo (nome fictício) torceu o pé. Eu perguntei se ele podia continuar (quer dizer, eu teria perguntado se estivesse lá), e ele disse que sim, por isso continuámos.
Junto à Mãe d'água descobrimos que a caixa estava no meio de uma densa mata de espinhos.
Ele estava lesionado e disse logo que não podia lá ir, por isso eu fui o escolhido (pelo menos imagino que teria sido, mas não tenho nada a ver com isto).

Então fui eu (ou seja, foi a pessoa a quem estou a chamar 'eu') a sofrer através uma mata de cactos. De calçõezinhos. E tudo por causa de um tupperware com brindes.
Encontrei a caixa e saí do outro lado, com as pernas literalmente a sangrar em vários pontos, e a retirar as carraças que já tinha agarradas à pele (segundo contou o amigo do meu amigo).

Claro que eu (enfim, ‘eu’ é como quem diz) também não sou assim tão doido que vá voltar para trás e atravessar aquela selva novamente, por isso gritei a dizer que ia tentar dar a volta e encontrar outro caminho.
Depois de andar durante alguns minutos encontrei (lá está, o gajo diz que encontrou e eu acredito) um caminho que dava a volta.
Foi preciso saltar o muro de uma Quinta, mas na boa. Se aparecesse alguém eu inventava uma desculpa (o vândalo que fez isto inventava, disse-me ele).

Lá cheguei finalmente ao pé do Ricardo (nome fictício), que por esta altura já estava sentado nos degraus da Mãe d’água. O pé tinha inchado, ele não conseguia andar.
Decidimos logo ali que tínhamos de ir embora, apesar de apenas ‘meia caixa’ encontrada.

Faltava só uma coisa antes de irmos para o carro. Essa tal Mãe d’água tinha uma porta de madeira, sem fechadura e apenas presa com arames.
Aquilo era uma casinha de pedra de 2 metros por 3, mas de lá de dentro vinha um irresistível barulho de cascata.
Tínhamos (tinham, tinham, não ‘nós’, 'eles’) de saber o que estava lá dentro.

O Ricardo (nome completamente inventado) tinha estado a tentar abri-la com uma pedra às pancadas no arame, mas sem um alicate era impossível de abrir.

Então ele sugeriu que eu (já falámos sobre isto, não era eu) desse um pontapé na porta, que aquilo talvez abrisse.
Eu jamais seria incapaz de fazer isso, mas o criminoso que lá estava esticou mesmo a perna. PUM! CRÁS!
No meio da nuvem de poeira, alguém disse "Isso foi uma cena à filme".

Lá dentro havia umas escadas que desciam até um negrume onde se ouvia água a correr.
Lá em baixo, depois de os olhos se habituarem à falta de luz, vimos um rio subterrâneo – o caudal do Aqueduto, ou pelo menos um dos seus afluentes.

Depois viemos embora, o Ricardo (etc etc) apoiado nos meus ombros e a andar ao pé-coxinho, todos contentes depois de termos destruído propriedade pública.

Se isto não é uma tragédia pegada, não sei o que será.
Ainda bem que eu não estava lá.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Inventam-nas todas XIII

O ano passado o passageiro ganhou uma cicatriz na perna, que pelos vistos fica para a vida.

"Ah, querias o quê, com a mania de te meteres em montes, escarpas e buracos?"
"Ah, mas isso dá-te um ar rebelde, não sabes que as miúdas gostam? "
"Ah, pois olha que cicatrizes já tu tens algumas, e..."

Calou!
Talvez isso seja tudo verdade, mas o passageiro não acha graça nenhuma à nova marca que lhe decora a canela. Por isso vão ter de ouvir o desabafo de como ele a ganhou.

O passageiro estava no comboio para Lisboa, e uma mulher forte e de meia-idade saiu na Cruz Quebrada. Quando o comboio arrancou, ela percebeu que tinha ficado com o casaco preso na porta. Começou a correr, puxada pelo comboio. Na carruagem, tudo aos gritos. A mulher estava prestes a ser arrastada pelo chão quando alguém puxou o travão de emergência. Antes que o comboio tivesse tempo de parar, a mulher caiu para o espaço entre a estação e a porta e foi parar debaixo do comboio.
Na carruagem, tudo de mãos na cabeça, tudo a usar telemóveis para chamar ambulâncias. Quando os bombeiros lá chegaram, a mulher, sabe-se lá como, estava viva. Foram horas para a tirar, com o comboio quase a atropelá-la umas poucas vezes, porque os paramédicos pediam ao maquinista para andar uns centímetros e ele andava uns metros. De cada vez que mexiam o comboio os passageiros pensavam que agora é que a mulher tinha morrido. Enfim, tiraram-na de lá sã e salva.

Então e foi nesse dia que o passageiro ganhou a cicatriz?
Tipo... não!

Exactamente 8 DIAS DEPOIS, o passageiro vai a correr para entrar para o comboio, teve de travar subitamente junto à porta, e aconteceu-lhe o mesmo do que à mulher.
A diferença é que por ser a entrar e não a sair, a porta ainda estava aberta, e o passageiro conseguiu meter os braços para dentro da carruagem, enquanto o resto do corpo descia pelo buraco e na estação as pessoas gritavam.
O maquinista devia ser cego, pois fechou as portas. E o passageiro, além de tentar não cair para debaixo do comboio, agora ainda tinha de se tentar içar só com uma mão, porque a outra servia para impedir que as portas fechassem.
Finalmente, o passageiro lá conseguiu 'entrar' para a carruagem. O comboio arrancou de imediato. O passageiro deixou-se ficar logo ali no chão, junto à porta. Nos bancos, as pessoas deitavam uns olhares casuais, do estilo 'já estou atrasado e aparece-me este delinquente com brincadeiras'. Ninguém deitou olhares à rapariga que tinha causado isto tudo ao ficar parada à entrada da carruagem, porque ela desapareceu. O que deu para deitar olhares foram as feridas que apareceram nas pernas do passageiro, sabe-se lá como. Uma delas deixou uma autêntica chaga lancetada, uma desmesurada cesura fendida, uma estúpida de uma cicatriz.

Depois o passageiro coloca uma foto ou assim.



P.S. E não é que, algumas estações à frente, quando passageiro saiu do comboio para ir trabalhar, surge a irmã dele à porta a chamá-lo toda contente?
Pelos vistos ela estava nessa mesma carruagem, mas não deu por nada. E agora está ali com uma mão no botão da porta, a impedir que o comboio arranque, aos gritos a dizer olá.
O passageiro não lhe contou nada, disse um olá e coxeou dali para fora.
Depois ela pode ler a história num blogue ou assim.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Inventam-nas todas XII

Ocorreu mais um momento de iluminação genial nos quais esta aventesma de blogue é profícuo: o hispânico lembrou-se que, quando contou a história do GPS até Melgaço, acabou por não explicar o que foi lá fazer.

Não, não foi colocar-se na fronteira com uma perna em Portugal e outra em Espanha.
Ora, está na cara, foi saltar de uma ponte.

Talvez fosse da descomunal bebedeira. O hispânico estava na região do vinho, e como tal, apesar de não beber álcool, teve de emborcar para cima de meio cálice de rosé. E num copo grande, não era daqueles pequenos!
Portanto, é possível que fosse da tosga, mas a ideia de saltar do alto de uma ponte gigante pareceu uma ideia tão boa como outra qualquer.

E caraças, se a ponte é grande. E alta. E o rio Minho parece tão pequenino lá em baixo.
Mas não vamos saltar para o rio, diz o instrutor de saltos. Ah, não vamos saltar para o rio, menos mal. Não, vamos saltar para esta parte só de rochas…
O hispânico começou-se a rir. Depois pensou, felizmente tinha uma muda de calças no carro.

Então vai o hispânico aprontar-se com o equipamento do salto pendular. É uma espécie de salto de elástico, só que a corda está presa na cintura e não nos tornozelos.
Tirando isso, é a mesma coisa. Metade das pessoas desistem quando estão para saltar, algumas raparigas choram, um gajo com uns 2 metros e uns 100 Kg de caparro disse que não era capaz. O costume, portanto.

Só que o hispânico tem a mania que é bom, e não podia dar parte de fraco. Vamos a isto que se faz tarde.

Os leitores deste maldito blogue ficam a saber uma informação porventura curiosa: quando se salta de uma ponte, a parte que custa mais é o princípio, quando se passa para o lado de lá da barreira.
É que é muito giro estar do lado da estrada a olhar lá para baixo. Mas e tentar alçar a perna para ficarmos na extremidade, do lado de fora da ponte?
Pois sim… de repente as pernas têm 90 anos cada uma e não conseguem dobrar os joelhos.

Mas como é um herói, o hispânico passou heroicamente essa fase, e ficou de forma heróica na beira do precipício.
É absolutamente irrisório o facto de que as suas pernas tremiam que nem varas verdes, e o seu corpo dava sinais de pânico por todos os lados, como se lhe dissesse:
“Mas... O que é que estás a fazer? O que é que tu estás a fazer???”
E é nessa altura, mesmo quando o corpo está a atrofiar por todos os lados, que se deve tomar a única atitude possível – saltar em direcção ao abismo.

O corpo pensa, literalmente, que vai morrer, e a sua única reacção é explodir.
Sim, o hispânico gritou até ficar rouco.
E tem uma teoria, pela qual mete as mãos no fogo – é impossível saltar de uma ponte sem gritar.

Depois é a queda, a vertigem, a incrível sensação de velocidade.

Quando se chega ao fim, o corpo descobre que afinal sobreviveu, e a sua única reacção é explodir de alívio.
Sim, o hispânico riu às gargalhadas enquanto balouçava lá em baixo, junto às rochas.
O hispânico tem uma outra teoria, pela qual também mete as mãos no fogo: é impossível acabar um salto sem desatar a rir.

Enfim, resumindo – o hispânico recomenda vivamente. É uma experiência inesquecível, embora não indicada para todos.



Ah, e depois disto, o colega do hispânico não quis fazer o seu salto pois estava com dores nas costas. Portanto o hispânico foi saltar segunda vez!

E como havia uma rapariga com medo e que só saltava se alguém fosse primeiro, o instrutor pediu ao hispânico para saltar logo, pelo que os dois saltos foram feitos basicamente sem parar.

Se o primeiro salto já tinha sido a maior descarga de adrenalina da sua vida, o segundo deve tê-la quadruplicado.
No fim disto tudo, o pobre corpo, claramente pouco habituado a tão grandes quantidades hormonais, estava a 400 à hora.
O hispânico tremia das mãos, mexia-se muito e falava sem parar ao triplo da velocidade. E dizia o quê, basicamente que estava a tremer das mãos, a mexer-se muito e a falar sem parar ao triplo da velocidade.

Esteve uma hora nisto até se acalmar. Felizmente nesse tempo não foi preciso conduzir, porque caso contrário o carro também era capaz de cair da ponte abaixo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

É a Mil XI

Baza lá fazer isto:

Mensagens Sem Nexo
ou
Coisas que um certo gajo punha no MSN em lugar do seu próprio nome


A fase erótica:
- Já agora, não se arranja por aí umas fotozinhas de mim a sodomizar o Luís?
- Qualquer dia viro heterossexual.
- A partir de agora quem precisa dos meus favores sexuais é que tem de me telefonar.


A fase poliglota:
- Tabula locorum rerum et thesaurorum absconditorum Menabani.
- Nog begrijp niet het punt van deze zinnen in vreemde taal.
- Sitä vihaa ei voi tukahduttaa, on hulluus kiven painona.


A fase sociológica:
- Aparentemente, gosto de começar frases com "aparentemente".
- Porque é que "corrida de touros" não é "Grande Prémio de Portugal de touros"?
- Erecto-me diante da evidência de ter uma facção. Tenho uma facção!!!
- (Obrigado, meus bravos - mantenham-se unidos - róger, escuto, ovér!)


A fase esotérica:
- Aguardo assembleia devida com estirpe matriarcal da ascendente linhagem genealogicamente contígua ao 'ego'.
- Granjearei pendor para me quedar ao jugo de Toth?
- O próprio 'Sigmund von Wien'.


A fase lírica:
- A anciania assacada a álgidos anátemas arcanos assoma anaformicamente à anamnese.
- A fotosfera refulge, os ovíparos alados tangem, os lepidópteros propalam-se...
- "O ónus é terminar em último."


A fase absurda:
- Antílopes bizarros comem diospiros em fuga.
- Se gostas de agrafar nabos, então buzina.
- Os unicórnios só chovem quando saltam à vara.


A fase negativa:
- Nunca foi por norma que se soltaram os abutres dominantes.
- Nunca imperou um rei lascivo que determinasse cercas de marfim.
- Nunca houve um cosmonauta empreendedor de cercas biológicas.
- Nunca soube de um agnóstico que quisesse extrair volfrâmio.
- As onomatopeias nem sempre são necessárias numa aula de Direito.


A fase proto-humorística:
- As Aventuras de Tozé Ramalho na Vila de Cabiças.
- Tó Fanholas e os seus cucos amestrados em missão ultra-secreta nas Berlengas.
- Lúcio Toni conserta avarias conjugais - orçamentos grátis.
- Crónicas da vida de Bitó Carmona, de dia dorme, de noite também.
- Vote em António Eliseu Amadeu Abreu Édimarfi para chefe do gangue dos coveiros travestis.


A fase esquizofrénica:
(todas as anteriores)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Choram as Pedras XI

Uma condução até casa para a hora de almoço.
Um avistar do caminho de cabras que é um local de passeios a pé e um atalho para o bairro.
Um pensamento súbito sobre se o carro seria capaz de lá passar.
Uma mudança de rumo para dar uma experimentada.
Um início de caminho bem vagaroso, para não estragar o VW Polo de suspensão desportiva.
Uma descoberta de que o caminho é algo acidentado, mas muito bonito.
Uma constatação, ao fim de algumas centenas de metros, de que o caminho está cheio de lama.
Uma preocupação ligeira, pois o caminho ameaça tornar-se num pântano alagado, digno de um jipe.
Uma noção de que o caminho é tão apertado que não dá para fazer meia-volta sem cair numas valas.
Uma conclusão de que voltar de marcha-atrás iria demorar uma vida.
Uma pausa para decidir o que fazer.
Uma resolução de ir em frente e chegar bravamente ao outro lado.
Um carro a patinar por todos os lados, mas a prosseguir.
Um poça particularmente grande, com o carro a deslizar de traseira mas a persistir.
Um charco ainda mais fundo, com a tracção dianteira a atrapalhar-se toda.
Um carro a não conseguir atravessar para o outro lado do charco ainda mais fundo.
Umas rodas a rodarem na lama, sem que o automóvel saísse do lugar.
Umas rodas a rodarem outra vez na lama, sem que o automóvel saísse do lugar.
Umas rodas a insistirem em rodar na lama, sem que o automóvel saísse do lugar.
Um gajo e a sua viatura, os dois completamente atolados.
Uma saída do carro para olhar à volta, no meio do fim do mundo não se vê nem um pássaro.
Uma decisão de que já chega de brincadeira e está na hora de regressar.
Um engatar de marcha-atrás para sair dali de uma vez por todas, mas agora é tarde, para trás também não vai.
Uma tentativa de sair para a berma direita e não cair na vala, mas o carro não mexe.
Uma esperança de rodar tudo para a esquerda e assim conseguir sair, também sem sucesso.
Umas experiências para a frente e para trás, para a esquerda e para a direita, devagar e a fundo, com o carro a afundar-se cada vez mais.
Uma triste descoberta de que vai ser preciso ligar a um reboque para vir desatolar um tipo envergonhado e que vai chegar atrasado ao emprego.
Uma última e derradeira tentativa, dentes cerrados, volante firme em frente, primeira engatada.
Um grande pontapé no acelerador.
Uns pedaços de lama a voarem por todo o lado.
Uns grandes bocados de barro a saltarem para as janelas todas.
Um carro a arrancar através da água e do pântano com uns barulhos que nunca tinha feito.
Umas mãos a rodarem freneticamente o volante enquanto as quatro rodas fazem patinagem artística.
Um resto de caminho percorrido em condições de completo lodaçal, com o fundo do carro a alisar a lama do caminho.
Um carro que chega ao alcatrão como se tivesse saído de uma selva, enchendo imediatamente tudo de terra.
Uma hora de almoço passada a transformar um carro castanho no seu preto original.
Um regresso para o emprego pelo caminho normal, que passa bem longe do atalho.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Choram as Pedras X

Se o tema do momento é Bandas Filarmónicas, então este blogue que não vale um chavo também tem direito.

O trompetista dantes era trompetista, num período áureo de 10 anos, entre os seus 8 e os seus 18.
Nesse tempo, o pobre trompetista, embora de muito tenra idade, vagueou pelos sombrios meandros subterrâneos de uma banda. São catacumbas obscuras, onde pelo meio de sons inorgânicos calcorreiam almas misteriosas, que a sociedade nunca chegará a compreender totalmente.
Ou então é tudo um bando de doidos e quando se juntam dá sempre raia!!


Exemplos:
- Numa certa terrinha minhota onde ninguém usa carros, e toda a gente "circula" naquelas fabulosas "motas" chamadas Famel-Zundapp que só servem para fazer barulho, passou um tipo numa Famel "quitada" com riscas de fogo, e o gajo fazia barulho naquilo como se não houvesse amanhã. Um elemento da banda disse «Lá ao fundo espetas-te».
IIIIIhhhhh...CRÁS!!!
Vai tudo a correr para lá, o "Valentino Rossi" tinha-se espetado contra um Fiat Uno (afinal havia lá carros), e estava estendido na estrada. Se calhar não ficou muito bem o pessoal da banda começar todo a apontar e a rir.

- Uma vez, era dia de festa numa terra qualquer, e começaram uma saraivada de foguetes. Onde é que as canas vão cair? Onde estava a banda, à espera da sua vez junto ao autocarro. Como o dito estava fechado e não havia nada à volta, era tudo a fugir com as mãos na cabeça. Alguns atiraram-se para debaixo do dito. Coitado é do Sr. Alberto, já era velhote e muito surdo, não se mexeu e levou com uma cana em cheio na careca.

- Ao pé de Lisboa, num lugar com um nome qualquer onde a banda foi dar um concerto, estava um tipo a fazer voltas de marcha-atrás a toda a velocidade dentro do parque de estacionamento. Um elemento da banda disse «Pode ser que te espetes».
Quando o concerto terminou e a banda saiu, o tipo estava com um ar tristíssimo, pois tinha-se espetado contra uns carros dentro do parque, e a polícia não gostou.

- Também houve aquela vez em Trás-os-Montes em que o hotel estava todo por conta da banda e num dos quartos ficaram 4 rapazes, entre eles o trompetista. Quando a televisão começou a dar um filme erótico, um deles (apropriadamente, era um solista) começa a ameaçar que vai ter de ir brincar sozinho. Os outros 3 riem. Depois as ameaças vão aumentando de tom e o solista passa das palavras aos actos. Os outros 3, sem acreditarem bem no que estavam a ver, resolvem sair do quarto a mandar vir com ele. Mas claro que aproveitaram para contar a história a cada elemento da banda que encontraram. Estes não acreditavam, iam ao quarto verificar, e lá estava o solista entretido, sem se importar minimamente com o público. Ou melhor, importava-se, pois virava-se para refilar, antes de voltar ao seu trabalho.
O problema veio algum tempo depois, quando, no meio de uma conversa a gozar com o solista, alguém perguntou ao trompetista se o filme erótico também lhe tinha dado para certas brincadeiras. O trompetista (como são imbecis, por vezes, os adolescentes) respondeu que, bem, quando depois esteve sozinho lá no quarto de porta fechada e começou a dar outro filme, também é capaz de ter feito umas festas no golfinho...
Pronto! Tudo estragado!
A partir daí, criou-se a fama dos 4 rapazes que faziam sessões de masturbação colectiva, e o trompetista suspeita seriamente que é capaz de ter durado até aos dias de hoje.

- E daquela vez em que estava um nevoeiro enorme, mas um nevoeiro incrível, nunca visto, e um animal do volante resolveu começar a fazer sinais de luzes a querer ultrapassar. Depois de chatear e buzinar durante largos minutos, resolveu passar a toda a velocidade e acelerou pelo nevoeiro. Alguém gritou «Cabrão! Vais-te espetar!»
Adivinhem a conclusão desta história...

- Também havia as partidas pregadas aos outros, que podiam ocorrer antes, depois, ou durante as bebedeiras, com destaque para as mistelas postas na cara do pessoal enquanto dormiam. E havia um maestro que perdia batutas como quem bebe copos de água, porque nos momentos de exaltação dos concertos aquilo lhe saltava da mão e voava pela sala toda.

- E havia uns autocarros manhosos, que se arranjavam sempre em sítios diferentes e nunca se sabia bem o que podiam dar. Uma vez, um deles não tinha a primeira nem a segunda. Como não conseguiu subir uma rampa em terceira, nem depois de todos os elementos da banda saírem, nem depois de todos irem lá para trás empurrar, ficou lá empacado. A malta teve toda de arranjar boleia onde calhou, para conseguir chegar a casa.
E também foi giro, aquele autocarro-versão-monovolume que ao sair de um hotel passou num buraco das obras e começou a balançar, a tal ponto que se levantou em 2 rodas e tinha caído de lado se a banda não tivesse instintivamente compensado o balanço.

- Mas aquela que é talvez a melhor, a única, a inaudita, é uma onde o trompetista não participou. Uma certa noite, alguns elementos da banda ajudaram um tipo a empurrar o carro que se tinha avariado.
Afinal o tipo tinha feito uma ligação directa! Levou o carro gamado e a malta ainda ajudou!