segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Inventam-nas todas VIII (2ª parte)

(continuação da entrada anterior... quem ainda não leu, faça-o antes de prosseguir)


Pois então o caminheiro achou que aquele pequeno episódio era digno de ser posto no blogue, e voltou para casa com intenções de o escrever.
Mas além desse, e da escrita do tal argumento, houve outro factor que fez pensar que era uma boa ideia regressar a casa. É que afinal de contas chovia torrencialmente, e o caminheiro estava sem chapéu e já a meio caminho do encharcado.

Por isso toca a voltar. Só que algumas coisas surreais demoraram a sua chegada ao lar.
O caminheiro não sabe como vai sair este relato, mas pode ser que consiga explicar como naquela noite... foi tudo muito esquisito.

Começou 'devagarinho'... primeiro topou com um grande bando de coelhos. Tudo bem, mas a dormir à chuva no meio de um relvado? Uma dessas ele nunca tinha visto. Com o susto de verem o caminheiro, alguns deles resolveram fugir para o lado onde ele estava. Se tivesse esticado a perna podia ter dado uns pontapés nuns quantos roedores. São animais muitos giros , mas falta-lhes esperteza...

Bom, uma última olhadela à cascata do rio e agora sim, voltar para casa. Claro que, com o adiantado da hora e da chuva, nada como tomar um atalho.
O 'problema' é que andar no meio do bosque de noite e sem luz faz com que não se saiba por onde se anda, e o caminheiro deu de caras com um carro onde estava um reinadio casal. Por sorte deles, não estavam ainda no auge, mais dois minutos e o caminheiro tinha direito a filme.
Claro que ele continuou na sua vida, e depois de passar ouviu lá atrás o carro a ser ligado, parece que se foram embora tentar outras paragens...

Com estas emoções todas o caminheiro já tinha esquecido o argumento da curta-metragem, e agora que estava ali bem podia experimentar ir ver o que era aquele edifício que estava ao fundo dos eucaliptos.
Não valeu a pena, estava murado, vedado, e fechado com cadeados.
Isto é... estava, em três lados. Por qualquer razão, no quarto lado não há cerca nem nada, só tem umas escadas e qualquer um lá entra. Deu portanto para o caminheiro ir ver os cadeados, mas do lado de dentro. É este tipo de coisas que faz um tipo pensar se não teria provado os cogumelos que encontrou junto ao rio.
O caminheiro depois viu que o edifício, embora isolado, faz parte da Universidade Atlântica. Os outros espaços da faculdade estão mais ao fundo, a maioria com as luzes acesas e o ar condicionado ligado. Sabendo que eram edifícios vazios, às ## da manhã em véspera de feriado, se calhar há ali um poucochinho de desperdício...

Enfim, junto a um cemitério de carros o caminheiro encontrou uma pequena ponte para atravessar o rio.
Claro que isso também não podia ter corrido de forma normal, já que as mãos bem agarradas aos corrimões tremiam, e não era da chuva. O caminheiro jura que o raio da ponte parecia seriamente que ia cair a qualquer momento!

Aqui o caminheiro lembra-se de ter pensado que para uma noite já chegava de absurdo. E ali, do lado oposto do rio, a vida volta ao normal. Mas assim que chegou à estrada parou um carro ao lado. Mentira, derrapou um carro ao lado, travando a fundo.
O condutor abriu a janela. Tinha um cão enorme no banco do pendura. Quando acabou de a abrir, ficou a olhar. Mais nada, ficou a olhar. O caminheiro a olhar para os lados para ver se era mesmo com ele, mas não havia mais ninguém ali. E o tipo imenso tempo parado, a olhar. Depois gritou "Beeem...!!", como faz um pai ao filho que se porta mal. O caminheiro disse-lhe 'boa noite' e continuou.

Houve outra coisa que o caminheiro disse: disse para si mesmo que aquela tinha ganho o prémio. E que já era surrealismo a mais, agora era mesmo altura de voltar. Mãos de novo nos corrimões, ponte quase a cair, e caminho de regresso.
Ah, ao voltar o caminheiro descobriu que afinal o casal do carro no bosque não teve o discernimento de ir embora, pelo que desta vez pôde presenciar o espectáculo todo, banco de trás ao rubro.

Esses dois e o tipo do outro carro foram as únicas pessoas que o caminheiro viu nessa noite, depois de horas sempre a andar. Quando finalmente entrou em casa, pensou duas coisas, se nessa noite viesse a sonhar o sonho seria menos estranho, e nunca mais iria dar passeios nocturnos ao pé de casa.



P.S.: Intrigado com tudo isto e esquecendo a sua anterior convicção, numa das noite seguintes o caminheiro resolveu descer até à mesma zona, para ver se aquilo era alguma dimensão paralela. Ao chegar lá estava um polvo na estrada. Um polvo inteiro, viscoso, bem no meio da estrada.
Aí o caminheiro deu meia volta. Não tem a certeza, mas acha que voltou para casa a correr.

Sem comentários:

Enviar um comentário