segunda-feira, 6 de julho de 2009

Choram as pedras IV

Várias pessoas incomodam o proletário na rua, para saber porque é que ele fala tanto de Torres Vedras.
É que elas sabem que ele é de Oeiras, essa povoação magnífica na toponímia nacional.

Pois bem, o proletário, mais ou menos na altura em que iniciou este blogue sem ponta por onde se lhe pegue, também deu por si a ser atirado, no meio de vociferações, chicotadas e torturas feitas por pessoas com tridentes e que lançavam fogo da boca, para um trabalho no estupendo lugar de Catefica. Lá está, no concelho de Torres Vedras.

Caso haja dúvida sobre a Catefica de que se fala, é a que fica ao pé de Orjariça.
Agora, poderá quem, incrivelmente, não saiba onde é a Orjariça, ou mesmo - como é possível! - onde é Catefica. Para essas almas alienadas do mundo, o proletário passará a explicar:
Catefica é a aldeia onde fica a empresa que gere as auto-estradas.
Fim.

Ah, mas não pode ser assim tão desértica...
Pode, pode. Atenção, o proletário até gosta muito de lugares sossegados e sem confusão, e o sítio é bem bonito, mas que não se discuta quando ele diz que não se passa aqui nada.
Nada.
Nada, já foi mencionado?

Consegue-se contar os carros que passam na estrada da aldeia, benza-a Deus.
E geralmente são tractores ou carrinhas com animais, já que a maioria dos velhotes prefere passar simplesmente a pé, com uma enxada pelo ombro.
A grande novidade quando se chega a Catefica é saber se o moinho da aldeia está parado ou se soltaram as pás para rodarem com o vento. Está todo pintadinho e rodeado com uma cerca. Sim, não chegue alguém à metrópole para o roubar. Há por aí uma ladroagem de moinhos!

Mas a excelsa terra de Catefica tem surpresas mil, segredos profundos, misticismos por revelar.
Como a emoção de hoje, onde se meteu o rebanho de ovelhas que costuma pastar no prado em frente à janela?

Bem, a verdade é que também há fenómenos mais perenes, quem diria que existe um pântano de areias movediças do outro lado da estrada, onde o proletário se atolou ao tentar fotografar um poço?
(Depois teve de voltar ao trabalho com lama pelas pernas, mas ele acha que ninguém reparou)
E aquela colina onde está uma imensidão de antenas eólicas? Para quem não se impressionar com isso, informa-se que as mesmas se encontram rodeadas por um mar amarelo, o maior prado de azedas desde que há azedas no mundo. Ou seja, paisagens insólitas. Há fotos.

Mas aquilo que realmente define Catefica é os animais.
Não, não é ovelhas.
E por falar nelas, em nome de todos os santos onde foi parar o tal rebanho??
A teoria de que o pastor simplesmente as levou para o palheiro não convence ninguém. Até porque ele veio ao edifício das auto-estradas para se queixar de que as raptaram, e que desconfia que em conspiração com os gangues de assaltantes de moinhos há cartéis internacionais de contrafacção de lanifícios. Ele só pede que ao menos os raptores tomem atenção à Malhada, que não gosta de encontrar folhas no meio do feno...
(Pronto, está bem, esta última parte de o pastor vir queixar-se é mentira, mas isso é outra característica de Catefica, as pessoas têm de inventar novelas para ter alguma coisa para fazer)

Enfim, adiante, não é ovelhas. Será então o quê, coelhos?
De facto, há aqui mais coelhos na relva do que folhas de relva, mas isso não impressiona. Até à frente da casa do proletário há coelhos.

Não, os animais que distinguem Catefica são outros. Ratazanas. E lagartos.

Agora, o proletário tem de dizer uma coisa. A verdade é que desde que aqui está ele nunca viu uma única ratazana. Ou um rato, já agora. Nem sequer um porquinho da índia para amostra.
Mas a julgar pela quantidade de ratoeiras que há espalhadas pelos edifícios, elas devem ser aos milhares de milhões.
Numa terra que bate recordes, aqui está mais este, a maior concentração de ratoeiras do mundo. Em todos os cantos há não uma, mas duas ou três. Os autocolantes a dizer "não coma, perigo, veneno para ratos" estão em todas as paredes. O que mais agrada o proletário é o que fica por cima de uma das ratoeiras na copa, a que está mesmo ao lado do microondas.

Quanto a lagartos, bom, isso é outra história.
Andam por todo o lado, os petizes. Nos jardins, nos parques de estacionamento, consta que no outro dia entrou um na sala do tabaco. Diz-se que dá azar quando se atravessa um gato preto mesmo à frente, então e se for um lagarto de 30 cm quando o proletário vai a descer as escadas, dá o quê?

Ah, e depois os lagartos ficam presos nas ratoeiras. É um zoológico, isto.

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