segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Vai já daqui VI

Hoje o petulante sente-se petulante.
Mas é só hoje.

Para já ele vai-se borrifar - outra vez! - em quem lhe pede que escreva menos e só sai daqui quando os dedos deixarem de obedecer por causa das cãibras.
E continuando nesse espírito, ele gostava de mencionar a fantástica experiência por que passou recentemente.
Foi numa residencial manhosa em terras espinhenses, onde de noite se matavam centopéias com as páginas amarelas, e de manhã se era acordado com os gritos da mulher por baixo da janela a vender peixe ao sol.

Nessa estância de luxo o petulante teve o que é para si um privilégio raro, uma televisão com mais de quatro canais.
E descobriu aí que a televisão é toda um lixo. Não é novidade, está bem, mas afirmá-lo é petulante.

E no meio do lixo viu um programa de comédia, com um 'camone' qualquer a mandar piadas para um microfone.
O programa já custava a aguentar porque o tipo era um bocado parvo e só de vez em quando é que tinha piada - é mais ou menos como este blogue -, mas ao fim de algum tempo tornou-se impossível.
Porquê? Porque 40% da duração do coiso se passou em aplausos.
A cada graçola o público fazia questão de dar uma estrondosa salva de palmas. Num programa com três mil e quinhentas piadas, é obra...
Tem-se então um programa de uma hora que durou duas, e muita mão dorida naquela gente na hora de ir para casa.

E esta, foi petulante? Esperem que vai piorar...

Na maior parte das vezes era aplauso automático, via-se na cara dos espectadores.
Só que, pronto, coitado do senhor, se ele disse uma gracinha é preciso retribuir ou ele pode pensar que não se gostou.
Claro que havia aplausos sinceros, como os daquele senhor que aparece sempre nestas cenas a tentar uma salva de palmas sozinho quando está tudo quieto. Sim, esse pobre estava lá!

E o pior é que isto nem sequer é exclusivo dos camones... - e os mais sensíveis que mudem de página, porque agora é que o petulante vai ser mesmo petulante e julgar os outros - A quantas peças já o petulante assistiu em que o público achou que tinha acabado, e na dúvida, contra toda a lógica e bom senso, começa a aplaudir?
O petulante já viu mais do que uma vez encenadores a mandar calar o público, mas a 'melhor' deve ser quando uma apresentadora, sentido uma ovação interminável, entrou na sala a agradecer a presença das pessoas.
E os actores no palco, à espera para poderem concluir a peça!!

E em quantos concertos 'clássicos' não esteve o petulante onde, percebendo o público que uma canção vai terminar, começa logo num enorme aplauso que nem deixa ouvir o final?
Respondem, e qual será o problema com isso?? Agora já não se pode aplaudir, é??
Pois bem, pensem naquelas rádios que têm a mania idiota de cortar o fim das canções. É um efeito parecido.
Podia-se aplaudir no fim de tudo, até durante horas, mostrando assim aos artistas como se apreciou, mas para quê, vai-se espalhando as palmas, assim no fim já estão quase todas despachadas e pode-se começar mais cedo a atropelar pessoas na saída para ser o primeiro a chegar ao carro.

Agora respondem, ainda bem que há pessoas a ir a espectáculos e a gostar deles e a bater palmas. E que se ninguém batesse palmas não havia grande coisa para contar no que à arte diz respeito...
Para já, essas frases têm zero em petulância, nem uma petulânciazinha, portanto nem interessa se são verdade.
E depois, as pessoas que dizem isso são provavelmente as mesmas - Ai, em nome de Santa Eufémia, que o petulante vai agora ultrapassar limites nunca vistos de petulância, afastem as crianças e por favor não tentem isto em casa! - que deixam tocar os telemóveis no meio de um espectáculo. Às vezes depois de terem sido avisadas em três ocasiões distintas!
O petulante exige, cheguem ao pé dessa gente e removam-lhes o cu.

Portanto, filhos, resumindo... em nome da decência... por caridade... sigam este guia singelo e não dêem barraca num espectáculo.
Sejam civilizados. E já agora, aproveitem esse recém-adquirido civismo para ir a mais espectáculos, que há muita coisa boa feita por aí.

Enfim, o petulante sabe bem que há problemas muito, mas muito mais graves no mundo para se preocupar, todos os males fossem estes...
Mas mandar vir com estes problemas menores tem muito maior valor de petulância.

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