sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Inventam-nas todas VI

O aniversariante talvez aconteça que seja capaz de por vezes, eventualmente, divagar um pouco...
Por isso desta vez o aniversariante vai tentar concentrar-se no tema, adivinhem só, dos aniversários.

É que alguns desses dias são propensos a acontecimentos interessantes.
Como por exemplo aquela vez há muitas décadas, na terna idade que lixa completamente um gajo e a que chamam infância.
Os aniversários eram um pretexto para juntar o pessoal todo e ir para a rua. E como, a seguir a uma bola de futebol rasgada, o entulho das obras era o brinquedo mais sofisticado que se conseguia arranjar, vai então o maralhal todo inspeccionar as casas em construção.
Quais engenheiros civis! A malta é que mandava naquela cena toda!
Fazia-se de tudo, só faltava remodelar quartos e acrescentar divisões.
Mas nesse dia é capaz de não ter corrido muito bem... No meio da conversa, em pleno primeiro andar da vivenda, o aniversariante aproximou-se demasiado da beira, deu um passo descuidado para trás e caiu desamparado.

Ora, vejamos como vai a história até aqui... malta... obras... passo para trás... cair do primeiro andar de uma vivenda e aterrar de costas no chão, sim, confere.
Bom, se o aniversariante está a escrever isto é porque não foi desta para melhor, embora ele não saiba bem como é que isso não aconteceu.
Quando deu por si estava no meio da terra, e lá em cima, lá muito em cima, os outros a olhar para ele.
Houve uns segundos, ou minutos, de silêncio total, enquanto a surpresa era absorvida. Depois o aniversariante começou a chorar. Mas foi de choque, porque fisicamente não tinha nada.
Levantou-se e foi para casa, sacudindo a terra da roupa para que a mãe não topasse nada.
Mentira, houve uma mazela física, estava a sangrar da unha de um dedo mindinho!




Um outro aniversário muito peculiar foi bem mais recente.
O aniversariante morava num quarto alugado na casa de outro tipo. Os dois mal se viam, mas em parte era por isso que a coisa funcionava muito bem. Como eles nunca paravam em casa ao mesmo tempo, cada um acabava por ter o apartamento só para si.
Mas no dia do seu aniversário, o aniversariante chegou a casa vindo de uma festinha com a família, e o 'senhorio' estava na conversa com uns amigos. O aniversariante pousou todos os sacos de prendas e mandou uma boca do género 'vieram para me dar os parabéns?'. Esperava um olhar de surpresa, seguido de uns sorrisos, qualquer coisa do género 'fazes anos hoje?'. Em vez disso o senhorio fitou o aniversariante com cara de caso, enquanto os amigos começaram a olhar uns para os outros. O aniversariante estranhou, mas ainda sorrindo, insistiu com um 'a sério, faço anos hoje!'. Como resposta, o senhorio fez uma cara como se o aniversariante estivesse a abusar, enquanto os outros alternaram entre o sorriso amarelo e a risadinha, ah, ah, tens mesmo piada.
Que cambada de imbecis, pensou o aniversariante, e foi para o seu quarto.
No dia seguinte, ainda antes de o aniversariante poder confrontar o senhorio sobre educação e maneiras, o senhorio perguntou-lhe 'olha lá, mas tu fizeste mesmo anos ontem?'. Que raio de pergunta, pensou o aniversariante, e disse 'mas quem é que inventa que faz anos??'.
A resposta do senhorio foi tudo menos o que o aniversariante esperava ouvir, 'é que aqueles são os meus amigos do trabalho. Vieram fazer-me uma surpresa pelo meu aniversário!'

Portanto, o aniversariante, que nunca tinha conhecido uma pessoa que tivesse nascido no mesmo dia que o seu, conseguiu que a primeira fosse o gajo com quem morava.
Ah, e apesar de viverem na mesma casa há meses nunca falaram no assunto, e ainda conseguiram deixar que o dia chegasse sem que se apercebessem do que se ia passar.
Depois claro, dá-se aquele momento inaudito.
Do ponto de vista do aniversariante, aquela gente que nem se dignou a dar os parabéns era parva todos os dias, a começar no cretino do senhorio e a acabar nos idiotas dos amigos deles.
Do ponto de vista do senhorio, era muito esquisito que o aniversariante tivesse descoberto, sabe-se lá como, que ele, senhorio, fazia anos.
Do ponto de vista dos outros, o tipo que vivia com o amigo deles era um palhaço foleiro, com a mania que tinha graça.

E do ponto de vista do senso comum, o aniversariante teima em achar que estas coisas só acontecem a ele...

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