quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

É a mil VIII

Tinha aqui estes textos, que foram uma encomenda.
Como é que um crítico devia REALMENTE comentar um filme?
Pode ser que pegue...


TRANSFORMERS
E se duas classes inimigas de robôs gigantes alienígenas resolvessem usar a Terra como campo de batalha?

Está-se mesmo a ver:
Um robô que se transforma em tanque usa uma auto-estrada para fazer o ‘Dança comigo no gelo’.
Um robô mau como as cobras mete-se no meio de um pelotão de caças sem que ninguém dê por ele, graças a um holograma de um senhor de bigode.
Um telemóvel é tão topo de gama que ao levar com umas microondas não só não fica bem tostadinho, como ainda põe cara de mau e saca da sua metralhadora.
Um robô bonzinho finge que tem pêlos no peito ao chegar transformado num camião machão, mas no fim leva tanta pancada e mostra ser tão sensível que se percebe porque são robôs ‘transformistas’.

Mas não são só pontos positivos. Há, infelizmente, alguns aspectos não tão conseguidos no filme:
A salvação do mundo reside num cubo mágico cheio de electricidade estática, o que se torna pouco plausível numa história até aqui totalmente realista.
O ‘escolhido’ pelos militares para levar o cubo é um rapaz com ar de quem não sabe comer de boca fechada, só porque eles assim podem mirar as curvas da namorada dele.
Os electrodomésticos ganham vida, e numa cidade a ser completamente devastada o espectador dá por si a torcer para que se salve a tostadeira e o espremedor de citrinos.

No fim de tudo os maus são destruídos porque o chefe deles não sabe resolver o cubo mágico.
Tivesse chegado nos anos 80.



2012
Melhor do que ver trezentos prédios a cair, só mesmo ver trezentos prédios a cair e distinguir cada apartamento, e cada uma das pessoas que vão caindo das janelas, e a cor das meias de cada uma dessas pessoas.

É assim o detalhe deste filme. Nós temos absoluta certeza de que os criadores das imagens por computador tiveram o cuidado de inserir migalhas na boca das formigas que andam nas plantas da varanda do 4º Esquerdo.

Mas este é um filme de extremos. Ao mesmo tempo que procura os pormenores mais ínfimos, consegue superar as dimensões mais desmesuradas, num conjunto de efeitos especiais nunca antes vistos na história do cinema.
Até o argumento entrará para a posteridade, pois é o mais curto alguma vez escrito. Nós tivemos acesso a ele e descobrimos que dizia apenas: “Vai tudo abaixo”.

Quando num filme há uma colossalmente astronómica e gigantesca onda que engole toda a cordilheira dos Himalaias, e depois ouvimos o público dizer que essa parte não foi nada, percebemos que a certa altura alguém se esqueceu de ir avisar o realizador de que já chegava…
O poder destrutivo deste filme é tal que destrói cidades, montanhas, ilhas, continentes, um planeta, os ouvidos dos espectadores, e todos os outros filmes de destruição que já existiram ou virão a existir.

E sem dar descanso. A chata da destruição não pára para recuperar o fôlego. O espectador distrai-se dois segundos para procurar uma pipoca que caiu, e já foram arrasadas mais dez cidades e duas cordilheiras.
Este é o filme da obliteração maciça, da aniquilação integral, da completa demolição. Nada fica de pé, e só quem tem cem mil biliões de triliões de dólares - ou em alternativa um avião e uma cara de espanto como a do John Cusack - é que pode escapar à devastação total, à destruição absoluta, à… enfim, já perceberam a ideia.

Um filme feito para ser visto numa sala de cinema. No pequeno ecrã perderá muito do seu brilho. Além de que há o sério risco de os televisores não o conseguirem aguentar sem se desfazerem em pedaços.

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