sexta-feira, 8 de maio de 2009

Choram as pedras (2ª parte)

Ou os desapontamentos de cinco portugueses e um espanhol de Leiria, às voltas no estreito mediterrânico.
Continuação dos capítulos anteriores...

Capítulo 4, a jóia africana.
Os viajantes gostavam de fazer compras, até que um dia foram a Ceuta:
Um sítio onde os produtos de de maior classe estão ao nível do refugo da feira da Ladra é um paraíso para o comércio.
E depois é um exemplo de harmonia social, já que na zona turística não há nativos, e na zona habitacional não há turistas. Excepto um dos viajantes, que era olhado de lado, e levantava dinheiro em máquinas que pediam o código três vezes e, diziam "Olhe bem à volta para ver se é seguro. Depois, se ainda quiser o dinheiro, prima a tecla verde". Não é piada.
Como forma de adaptação optou-se por uma mudança ligeira no vocabulário. Assim, a palavra "badalhoca" passou a servir para "obrigado", "por favor" e "adeus". Descobriu-se que, desde que dito com um sorriso simpático e um aceno da mão, pode-se gritar "Badalhoca!!" a qualquer estrangeiro, que ele ainda nos sorri de volta.

Capítulo 5: A vida animal em Gibraltar:
Os viajantes gostavam de animais até levarem com uns sacos de pêlo em forma símia:
Não são as pessoas que encontram os macacos, mas o oposto. Basta parar o carro em qualquer parte e eles aparecem. Depois põem-se com um ar de imbecis a olhar para ontem, enquanto a malta se põe ao lado deles e tira fotografias de boca aberta a mostrar o teclado todo.
Pois os viajantes aproveitaram para observar, imbuídos do mais progressista espírito científico, o rabo verrugoso de uma macaca... Foi por essa altura que um deles resolveu finalmente mexer-se - ai, tão giro ele a andar. Depois aproximou-se do carro - que querido, não tem medo. Aí entrou pela janela do banco de trás e saiu com o saco da comida - agarrem esse cabrão!
E depois punha-se a abrir a boca, em ameaça, a quem esticava a mão para recuperar o saco. Resultado final, os seres menos inteligentes que ali estavam acabaram a passar fome.
Macaco pulguento, a tua mãe é a oferecida aí do bando!

Capítulo 6, estreitos laços.
Os viajantes gostavam de comércio tradicional, até um deles ter conversado com um merceeiro gibraltino de dedo leve:
Viajante- Levo este pacote de bolachas, este sumo e este saquinho com duas carcaças. Quanto é? Merceeiro- (lentamente pega na calculadora... carrega muito devagar nas teclas todas... várias vezes... depois soma... depois mais teclas... depois multiplica...) Nove euros e setenta.
V- Quanto?!?
M- Nove euros e setenta.
V- Nove???
M- Nove euros e setenta.
V- Não pode ser...!
M- Nove euros e setenta.
V- Então e sem as carcaças, quanto é?
M- (lentamente pega na calculadora... fica um tempo incrível a carregar em teclas......) Dois euros.
...Fica lá com as carcaças. Badalhoca!

Enfim, se não fosse terem os viajantes conseguido algumas abençoadas horas de descontracção e sossego em quilómetros de filas de trânsito, e tinha sido uma desgraça de fim-de-semana.

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