quarta-feira, 17 de junho de 2009

Inventam-nas todas IV

Era uma vez um condutor que supostamente ia para a faculdade porque lhe diziam que ia ser engenheiro.

Ora, para uma tarde de preguiça e jogatana em que se finge que estuda, não há nada como levar o popó da mamã.
O Mercedes é fiável e puxa bem. Naquele dia o tabliê estava a tremer por todos os lados, mas isso é porque já é velhote, coitado.
De qualquer modo, nada que importe muito, já que o leitor de CD tinha uma metalada em berreiros proibidos por lei, daquelas tão 'a abrir' que o carro até anda a 300 à hora, sem ser preciso acelerar.
Reunidos portanto todos os condimentos para uma bela viagem, que ainda é longa até à outra banda.

Era uma vez um condutor que vai na A5 todo contente na faixa do meio.

Então repara que o tipo do lado esquerdo abranda antes de o ultrapassar, pondo-se a olhar de forma ostensiva.
Estranho? Sim... O condutor vai ligar a isso? Não...
Nem mesmo ligou quando o carro seguinte também abrandou e olhou fixamente. E o que se seguiu a esse. E mais um outro.
Alguns carros depois o condutor pensou que algo se poderia estar a passar. Bonito, tem um furo num pneu do lado esquerdo.

Era uma vez um condutor que descobre que tem um furo enquanto vai na auto-estrada.

Só que o carro continua a obedecer na perfeição. Ele abranda e acelera, vira o volante, e está tudo normal, furos não temos.
Uma porta do lado esquerdo aberta? Só que numa espreitadela rápida parecem as duas fechadas. Mas então...
Bem, se ele pôs uma mossa no chaço a mamã estrafega-o! Ele não raspou nem bateu em nada, estaria o carro amolgado quando ele para lá entrou?
Claro que é muito possível que o problema seja antes no lado direito, porque ele agora repara que as pessoas que ele ultrapassa por aí também estão a olhar meio de lado!
A pergunta "O que é que foi, caraças???" pode ter saído um pouco brusca e com cara de poucos amigos, pois a pessoa visada volta a virar-se para a frente e segue o seu rumo.
Tem de ser um pneu furado. Mas não pode, nesse caso o carro não estaria governável. E aqui não dá para parar, é uma auto-estrada...
O condutor já começava a sentir-se enjoado, alternando a troca de olhares com pessoas à esquerda e à direita na treta da auto-estrada, mas o que realmente o fez suar frio foi ver o tipo do carro à sua frente de olhos vidrados no retrovisor. É oficial, estava tudo doido.

Era uma vez um condutor que agradece às alminhas quando finalmente chega à ponte sobre o Tejo.

Livre da auto-estrada do inferno ele procura acalmar-se. Pelo menos tem espaço para isso, já que os carros todos se desviam da sua frente!
Agora já ninguém parece querer sequer ultrapassá-lo, e os que o fazem abrandam para poderem abrir a boca a olhar...
Novas inspecções às portas, todas fechadas, novos atrofios à procura de algo errado com o carro. Mas se na auto-estrada não se parava, ali ainda menos. E a via rápida para a Caparica nunca mais chega, esta ponte sempre teve tantos quilómetros?
Ah, mas na via rápida, aí sim, o condutor foi rei. Todos os súbditos o veneraram com admiração...!
E o rei, já sem pinga de sangue, nem sabia para que lado olhar.
Escolheu olhar para a bomba de gasolina, onde toda a gente parou o que estava a fazer quando ele passou.
Nesta altura já lhe ocorria que se calhar o carro vertia óleo, mandava chamas, largava peças, ou todos os anteriores, mas a faculdade era já ali à frente, se houvesse algo errado ele estava quase a saber...

Era uma vez um condutor que já ia com espasmos de pânico quando chegou finalmente ao Monte da Caparica.

Para entrar na faculdade, é preciso dar umas voltas, onde se demora imenso tempo. Anda-se muito devagar porque há sempre dezenas de alunos a passar.
Vai portanto o condutor a atravessar no meio deles, e eles todos, o raio dos alunos todos, a espreitarem para dentro do carro. Alguns, ao passarem mesmo ao lado, olhavam fixamente o condutor. O mundo enlouqueceu e ninguém avisou?
Na entrada no parque de estacionamento, ainda o condutor estava à espera na fila já o tipo que está a verificar os cartões de entrada se punha a olhar. Não é possível!!
Quando chegou a sua vez e o condutor levantou o cartão para mostrar na cancela, não há palavras para descrever a cara de espanto do tipo enquanto o carro passava por ele...

Mas já era chegado ao estacionamento. Em lágrimas de fúria, todo encolhido no banco, faltavam só umas voltinhas à procura de um lugar... durante as quais as pessoas que estavam por lá iam parando no seu caminho para olhar, é claro...
Um lugar mesmo à frente do edifício e finalmente é chegado ao fim da sua bela viagem.

Era uma vez um condutor que ao desligar a ignição ia ficando surdo com a buzina que não parava de tocar.

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